quarta-feira, 25 de setembro de 2013

- VIOLÊNCIA



- ALGO ESTÁ ERRADO...




A covardia coloca a questão: É seguro?
O comodismo coloca a questão: É popular?
A etiqueta coloca a questão: É elegante?
Mas a consciência coloca a questão: É correto?

E chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não e elegante, não é popular, mas temos de fazê-lo porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta.

Martin Luther King


Recentemente numa reunião daquelas de "alto escalão" fui questionado por uma manifestação minha sobre uma tomada de posição institucional. A dialética entre fazer o que é melhor para o interesse da instituição e fazer o que é certo está cada vez mais presente nas discussões de gerências. E me espanta o fato de que tanto no âmbito profissional quanto nas escolhas pessoais o "princípio do interesse" ganha espaço e justificativas. Me sinto cada vez mais um corpo estranho nestas reuniões pois ainda sou um defensor intransigente da conduta do "faça a coisa certa" .. Esta me parece uma conduta tão simples que fico constrangido em ter que a justificar perante pessoas que antes de mim deveriam apresentá-lá. Me sinto cada vez mais um corpo estranho quando me levanto com minha bandeja, na praça de alimentação do shopping, e vou colocá-lá no lixo. Esta me parece uma conduta tão simples que fico constrangido ao perceber que só eu estou fazendo isso. Um professor de ética me disse certa vez que "ética é aproximar aquilo que nós sabemos que devemos fazer daquilo que nós realmente fazemos". Se este conceito estiver correto acho que devemos começar a nos preocupar. Percebo uma certa banalização em não fazer o que é certo... e o que é pior, solidariedade parece estar se tornando virtude... 





terça-feira, 17 de setembro de 2013

- VICISSITUDES PESSOAIS




- TÁ COMPLICADO FALAR DE SEXO





Talvez não exista lugar mais gerador de conhecimentos ecléticos do que uma sala de cafezinho repleta de médicos, num intervalo de plantão. De “jornada nas estrelas” ao assassinato de Kennedy quase tudo é discutido com fervor partidário. E numa destas reuniões filosóficas, estabeleceu-se uma discussão sobre cenas famosas de sexo em filmes de cinema. Entre descrições detalhadas e sugestões telegráficas cada um dos presentes apresentava sua candidata, cuja indicação era acompanhada de aplausos, vaias e comentários depreciativos ou entusiasmados. O erotismo de Sharon Stone em Instinto Selvagem e a volúpia agressiva de Glenn Close em Atração Fatal disputavam os comentários mais criativos e divertidos até o instante em que apresentei minha preferência: a cena do filme “Encontro Marcado”, protagonizada por Brad Pitt, representando a morte. Após um silêncio constrangedor, percebi os dedos freneticamente em I-Phones, buscando a desconhecida cena. Confesso que fiquei desconcentrado com os comentários. Ninguém gostou, sendo criticado de forma divertida em relação às minhas preferências tanto sexual como cinematogáfica. Nem a pretensa “sensível” ala feminina manifestou apoio. Evidente que para os que gostam de gritos, gemidos e panelas caindo da mesa esta não é uma cena entusiasmante. Por outro lado ela retrata uma sensualidade criativa, desenvolvendo um erotismo delicado, singelo, que se desenrola de forma lenta, quase infantil. Não há gritos, roupas rasgadas ou gestos frenéticos. Os corpos nus pouco aparecem, cedendo seu lugar a uma expressiva troca de olhares, que constroem uma narrativa repleta de significado. Aliás, esta inversão de expectativa representa o grande risco desta cena. Ao contrário do que todos esperam, o Diretor desenvolve todo um rito sexual em que os personagens comunicam seu prazer através de expressões faciais, olhares e toques, fugindo de tudo que é comum neste tipo de cerimônia libidinosa. Realmente, parece mesmo que para ser popular é indispensável ser medíocre. Portanto, para aqueles que futuramente forem participar deste tipo de discussão fica a dica. Se você não quiser ser vitima de bullying sexual vote numa cena barulhenta e manifeste suas preferências por sexo selvagem e sem limites. Ou assuma sua escolha. No meu caso, gostei do resultado, afinal “existe uma certa glória em não ser compreendido”.. 






sábado, 20 de julho de 2013

- VICISSITUDES PESSOAIS



- PEDINDO DESCULPAS




Hoje, após 24 horas de plantão numa emergência em que havia 159 pacientes literalmente empilhados, num espaço projetado para atender 45, resolvi parar um pouco e pedir desculpas... primeiro aos pacientes que estavam lá sentados ou deitados, alguns há vários dias, esperando um leito, uma cirurgia... desculpe por não ter uma sala no bloco para operá-los, desculpa por não ter um leito para interná-los.. pelo menos se vocês conseguirem se recuperar terão bons estádios de futebol para visitarem..  desculpem-me os motoristas das dezenas de ambulâncias que vieram do interior do Estado e despejaram seus pacientes na nossa porta.. desculpe por faze-los esperar, mas em respeito aos colegas do interior, que encaminharam estes pacientes por total falta de condições de atendimento nas suas cidades de origem, eu preciso tratá-los adequadamente antes de libera-los para viagem de volta.. talvez colocando mais um médico nestas cidades as ambulâncias diminuam suas viagens.. desculpe a  todos por ter feito o vestibular mais concorrido, cursado a faculdade mais longa e mais difícil, ter feito uma residência durante três anos em que trabalhei mais de 18 horas por dia, TODOS os dias neste período.. talvez aumentando mais dois anos de faculdade a saúde do país venha a melhorar.. peço desculpas a todos que não sabem o que é ser médico, pois eu não consigo explicar algo tão grande e tão especial.. peço desculpas se eu não reajo diante do preconceito, da inveja e do casuísmo, mas estou muito ocupado fazendo o meu trabalho.. desculpe dilma, padilha, mercadante e todos os prefeitos safados que tentam salvar seus cargos políticos mentindo e enganando a população.. vocês vão passar.. e nós continuaremos.. e espero sinceramente que aqueles que forem substituí-los façam algo melhor.. ou pelo menos sejam mais honestos com a população.. até lá galera da medicina, não se assustem.. liga o som, aumenta o volume e vamos para linha de frente.. é lá que estão as pessoas que reconhecem o trabalho médico..    


segunda-feira, 20 de maio de 2013

- VICISSITUDES PESSOAIS



- VALORES UNIVERSAIS





Confesso que admiro muito a criatividade dos publicitários, principalmente quando eles conseguem carregar de emoção cenários que nos são conhecidos. Nesta campanha uma empresa de telefonia móvel inglesa conseguiu unir dois eventos que são absolutamente universais: a Trafalgar Square e os Beatles. A Trafalgar Square, em Londres, é um daqueles lugares que podemos dizer ser um dos "pontos de encontro dos povos". Neste local mágico, em frente a National Gallery, um dos mais belos museus do mundo, transitam pessoas de todas as nacionalidades, num ambiente absolutamente democrático, onde artistas, turistas, trabalhadores, adultos e crianças convivem em harmonia. Se você estiver em Londres e sem programa definido (o que é difícil), vá para esta praça e fique olhando o mundo passar na sua frente. Pois neste local foram reunidas mais de 13 mil pessoas, chamadas por uma simples mensagem em seu celular: "Esteja na Trafalgar Square tal dia, tal horário". E nada mais foi dito. E na hora marcada foram distribuídos dezenas de microfones, para que fosse feito um karaokê gigante, de surpresa, onde todos cantaram algo que é tão universal e inglês como a própria praça: a música Hey Jude, dos Beatles. Aliás, em termos de música, nada pode ser mais universal que os Beatles. É emocionante ver pessoas tão diferentes unidas num local mágico, cantando uma única música, numa confraternização que nos faz pensar como o mundo poderia ser um lugar muito melhor de se viver.. É impossível ver este vídeo e não sentir uma vontade de ter participado desta história, de ter estado lá naquele momento..   




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

- VIAGEM



- UM RITUAL BIZARRO E DE MUITA FÉ - NEPAL





Viagens a países exóticos proporcionam sempre experiências também exóticas ou bizarras, mas que nos permitem entender a cultura e a história dos povos. Uma experiência que pode ser classificada como impressionante é a visita ao Templo Hindu de Pashupatinath, em Kathmandu, no Nepal. Este templo, um Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, permite uma visão privilegiada dos rituais de cremação, uma cerimônia muito importante dentro da religião hindu. De acordo com a tradição do hinduismo, no Nepal, o cadáver é levado em uma padiola improvisada, normalmente pelos familiares, enrolado em um pano branco ou alaranjado, enquanto estes recitam orações. Ao chegar ao local da cremação junto ao Rio Bagmati, um afluente sagrado do Rio Ganges, o corpo é mergulhado em suas águas, num ritual de purificação. Na seqüência é colocado sobre uma pilha de troncos de madeira, que estão em plataformas junto ao rio. A pira é acesa normalmente pelo filho mais velho, no caso dos homens, ou pelo filho mais novo, no caso de mulheres. O fogo queima durante aproximadamente três horas, supervisionado por um responsável pelas cremações, e acompanhado pelos familiares, normalmente homens. As mulheres só comparecem se não chorarem ou gritarem, pois isto não é considerado adequado para o momento. Neste período o filho mais velho tem seu cabelo raspado, num dos inúmeros rituais que acompanham esta cerimônia. Ao final, as cinzas, pertences e restos de madeira são jogados no rio e a plataforma é lavada, com água do próprio rio, normalmente pelos filhos. Este ritual é extremamente importante para os hindus. As cinzas jogadas nas águas do rio sagrado libertam a alma da matéria, permitindo que a fumaça que sobe, estabeleça uma comunicação com os Deuses. A cremação é o caminho para a libertação espiritual, liberando o homem do Samsara, um ciclo vicioso de milhares de renascimentos e reencarnações, e permitindo alcançar o Moksha, um estado de perfeição, uma analogia ao Nirvana. Para nós que não participamos dessa cultura, o ritual pode parecer algo entre o macabro e o bizarro. Mas diante dele é possível sentir o peso da religiosidade e a fé que reveste cada gesto desta diversidade. Você fica tempo observando o cenário e questionando a espiritualidade e o valor do corpo e da matéria. Pashupatinath corresponde, no Nepal, ao que ocorre em Varanasi, a cidade sagrada dos seguidores do hinduismo. Mas isso já é outra história... 






sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

- VIAGEM



-  VALORIZANDO MOMENTOS





Uma análise interessante quando se viaja com certa regularidade é comparar a perspectiva de interesses no planejamento da ida com a quantidade de lembranças da volta. Normalmente planejamos uma viagem baseado no que pretendemos ver e conhecer, incluindo paisagens, monumentos, museus. Mas quando retornamos, nossas melhores histórias não envolvem lugares.. Envolvem pessoas. Basta prestar atenção naquele papo de bar, junto com a família ou com a turma. Quando vamos contar algo interessante de uma viagem, normalmente o núcleo da narrativa está numa situação que envolve as pessoas do lugar visitado. Esta é uma dica para quando planejar uma viagem. Considere não apenas os lugares bonitos que irá conhecer, mas as características e a cultura do povo com quem irás conviver. Neste núcleo estarão nossas melhores histórias. Neste sentido, um dos lugares mais impressionantes que conheci foram os Templos da Civilização Kmer, no Camboja, incluindo o Templo de Angkor Vat. Estes monumentos religiosos impressionam pelo seu tamanho e estilo arquitetônico. Mesmo diante disso, sempre que me perguntam sobre o Camboja, a história que conto não envolve os templos, mas a figura isolada de uma velha senhora. Quando chegava ao Templo de Angkor Tom, após uma caminhada na floresta, percebi uma senhora idosa, sentada no chão, na entrada do templo, vendendo aquelas famosas “lembrançinhas made in China” que proliferam em todo lugar. Após uma hora de passeio, na saída, percebi que a senhora estava no mesmo lugar, na mesma posição e aparentemente com os mesmos objetos expostos, resultado de um programa de vendas não bem sucedido. Aproximei-me e percebi que ela vendia aquela inutilidade que são os ímãs de geladeira. Após uma certa dificuldade de comunicação, mesmo sem saber direito quanto iria pagar, peguei dois exemplares e dei-lhe uma nota de cinco dólares. Neste momento ela afastou uma espécie manto que a cobria e tentou pegar uma pequena bolsa para me dar o troco. Só então percebi que ela não tinha nem as mãos e nem os pés, que foram amputados. Descobri mais tarde que se tratava de uma das centenas de vítimas de minas terrestres que existem no Camboja, que literalmente tem seus membros explodidos, de forma cruel e aleatória. Isto ocorre principalmente com simples agricultores, quando estes estão trabalhando no campo. Voltando a cena, acho que fiquei alguns minutos olhando para ela, com os dois cotos de antebraço, segurando meu troco. E neste curto espaço de tempo pude perceber aquele rosto envelhecido, não só pelo tempo, mas também pela dor.. e sentir aquele olhar perdido que fulmina nosso coletivo de queixas simplórias e vaidades diárias inúteis. Não sei quanto dinheiro tinha na carteira. Certo que não era muito, mas rapidamente lhe dei todo o que tinha e peguei o saco de ímãs de geladeira. Conversando depois com o guia local, ele narrou que esta é a vida de muitos mutilados de minas. Sem previdência social ou ajuda governamental, a rotina da sobrevivência é passar o dia todo sentado, diante de um templo fantástico, vendendo quinquilharias chinesas para turistas desatentos. Incrível como a imagem daquela mulher está presente nas lembranças daquela viagem, e como ela participa de todas as conversas sobre o Camboja. Lembro que o templo Kmer era magnífico, mas lembro mais dos detalhes das mãos e pés ausentes do que da decoração de suas paredes. Ainda tenho vários ímãs de geladeira chinês, comprados no Camboja, que costumo presentear aos amigos, em situações especiais. Infelizmente os que ganham este presente não entendem o seu significado.. E a sua representação.. E isto também não é justo com aquela senhora.. Aliás, nada na vida parece ter sido justo com ela.. E como em quase todas as viagens, mais uma vez são as “pessoas” que dão significado aos lugares.