quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

- VICISSITUDES PESSOAIS


- COMO SE DIVIDE A VIDA COM ALGUÉM?




Desde “O Último Tango em Paris”, passando por “Império dos Sentidos” e até chegar em “50 Tons de Cinza” filmes que mostram duas pessoas relacionando-se além dos limites da pseudo-normalidade convencional parecem ser muito atrativos. Ou pelo menos conseguem apreender os instintos, os sonhos ou os desejos das pessoas. O apelo visual sempre é muito estimulante. Pois num momento em que “50 Tons de Cinza” mobiliza multidões ao cinema para ver um filme sobre o relacionamento de um casal “atípico” gostaria de chamar a atenção sobre um outro filme, que discute esta temática de uma forma brilhante: “Her”. É temerário dizer que um filme possa esgotar todas as perspectivas de risco que envolvem um relacionamento, mas este, se não o faz, chega muito próximo. O filme discute a dificuldade de se conseguir um relacionamento, os problemas para se manter um relacionamento, o medo da dor potencialmente gerada pela perda de um relacionamento e a culpa originda por esta perda, lançando tudo isso de forma ordenadamente desordenada, numa narrativa monótona e instigante, onde cada cena é criada para nos fazer pensar. Trata-se de verdadeira crônica sobre a ilusão da aproximação, um liquidificador de sentimentos que certamente, em algum momento, envolve e tritura a nossa realidade. Talvez isso já possa ter sido feito em outros filmes. Mas que tal criar este universo numa relação em que um dos parceiros é virtual. Seria possível um sentimento ou algo emocionalmente eficaz com alguém que você não consegue ver, tocar, sentir seu cheiro ou seu gosto? Impossível imaginar. Tudo bem que a voz desta parceria virtual é da Scarlett Johansson, que consegue ser perfeita até quando não aparece, mas só a fantasia auditiva seria suficiente para sustentar um relacionamento que ultrapassa a emoção e gera um sentimento fundamental? Sentimento que inclusive é citado no filme como sendo “uma forma de insanidade socialmente aceita”. Aliás este é um filme de “frases”. A cada momento uma citação nos faz pensar, mas sem muito tempo para fazê-lo pois de forma inesperada uma outra logo surge. “Como se divide a vida com alguém?”... “Nós crescemos e mudamos juntos. Mas essa é a parte difícil. Mudar sem assustar o outro”.. Somam-se ainda a este roteiro genial uma atuação melancolicamente competente de Joaquin Phoenix, uma trilha sonora envolvente e um cenário atemporal. Enfim, você pode até gostar ou ficar atraído por um relacionamento como o de “50 Tons de Cinza”.. Mas se você quer se emocionar com um relacionamento, assista “Her”. Fica a dica..