- O DESPERTAR DE "STAR WARS"
O modelo de filmes em sequência
sempre traz uma negativa expectativa em relação ao próximo episódio. E na saga “Star
Wars” eu e minha geração, que aprendemos a construir a paixão pelos Cavaleiros
Jedi, a partir dos episódios IV, V e VI, vimos esta expectativa se confirmar
nos episódios I, II e III, quando o modelo da fantasia emocional pela aventura foi
substituído pela narrativa tecnológica burocrática. Por isso toda a expectativa
em cima da retomada pela aventura prometida para o episódio VII. E neste clima
lá fui eu, junto com uma plateia de “tiozinhos e tiazinhas”, alguns
acompanhados pelos seus padawans, para uma das primeiras sessões. Num cinema
lotado, era nítido que a tensão gerada pela perspectiva da frustração estava
presente no ambiente. Mas bastaram os minutos iniciais do filme para que todos
percebessem que a magia havia retornado. Provavelmente nem todos irão gostar do
filme, mas para os que viram o início da série, no cinema, lá na distante década
de 80, e estavam carentes de sair do cinema com aquela sensação inexplicável de
que a Força existe, posso garantir: desta vez o sentimento na saída foi como da
primeira vez.. A Força está de volta..
Consigo identificar três motivos
para achar que hoje os executivos da Walt Disney Pictures devem estar em êxtase
financeiro, após investir 4,05 bilhões de dólares para comprar a empresa de
George Lucas e garantir os direitos de produção de Star Wars:
1 – A opção pela emoção: parece
incrível, mas depois da overdose de efeitos especiais, que colocaram a
narrativa a serviço da tecnologia, alguém percebeu a necessidade de retornar as
origens, e entender que o sucesso da séria estava na história, na aventura, na
emoção que nos conduzia a querer ser um Jedi. É nítido neste episódio que os
efeitos tecnológicos estão presentes para ilustrar a história e não para serem
os protagonistas. Se é para ver um filme de efeitos especiais, vou comprar
pipoca e assistir Transformers.. Star Wars é muito mais que isso..
2 – O carisma das personagens:
depois de sermos arrastados a aguentar Ewan McGregor afundando o personagem de
Alec Guiness, durante três episódios, com seu Obi-Wan Kenobi estilo pastel de
rodoviária, sem gosto e sem tempero, surge agora um novo/velho elenco, que
justifica o carisma exigido pela história. A empatia da atriz Dayse Ridley com
a personagem Rey é emocionante. Com cinco minutos de filme você percebe que ela
está ali para fazer a diferença na história. E para não errar joga tudo no
antigo que deu certo. Harrison Ford e seu impagável Han Solo. Não tem como não
se emocionar quando ele surge pela primeira vez em cena, casualmente a que
aparece no trailer e por isso me permito citá-la aqui. Mesmo não sendo um Jedi,
Han Solo é “o cara” e felizmente nunca precisou ser substituído por outro ator.
Ele continua pilotando muito bem suas frases irônicas e seu estilo aventureiro
imprudente, apesar do tempo.
3 – Investimento em ícones: em O
Despertar da Força retoma-se um dos fatores de sucesso da série, que é a relevância
das figuras icônicas de objetos. Quem de nós nunca quis ter um “sabre de luz”, ou
pilotar o “Falcon Millenium” ou ter um “R2D2” como amigo? Neste episódio os
elementos clássicos das construções iniciais da série voltam não como figuras
decorativas, mas praticamente como personagens. O “sabre de luz” é protagonista
da melhor cena do filme; o “Falcon Millenium” leva a plateia ao delírio com
suas manobras e na falta de um “R2D2” (ok, escapou um spoiller) surge a figura
que “rouba” muitas cenas no filme: o dróide BB-2. Este robozinho vai fazer a
alegria dos vendedores de brinquedos.
Mas é isso.. Estava com saudades
daquele efeito “onde eu compro outro ingresso pra ver de novo”. Esta deve estar
sendo a sensação para os aficionados pela série que já viram o filme. E para os
que não viram ainda, podem ir ao cinema tranquilos. Vai valer muito assistir. “O
Despertar da Força” traz implícito no título o seu real significado: o
despertar da série.. a aventura está de volta..