sábado, 22 de dezembro de 2018

- VIAGEM



- UMA HISTÓRIA SOBRE FÉ..



Época de natal nos traz lembranças. E um dos locais mais incríveis que já visitei guarda muita relação com essa data: Jerusalém. Nesta sequência procurei captar um dos muitos momentos de mistério e fé que envolvem esta cidade. Era início de noite e queria ver um dos rituais mais simbólicos que é o fechamento da porta da Basílica do Santo Sepulcro, local onde segundo a tradição desenrolaram-se cinco das estações da Via Dolorosa de Jesus Cristo, incluindo a crucificação. Até hoje existe uma família muçulmana que recebeu de Saladino, o chefe militar curdo que esteve à frente dos árabes na reconquista de Jerusalém, no séc. XII, o direito de abrir e fechar cada dia essa porta, única entrada para a basílica. Os franciscanos, em nome da Igreja católica, os greco-ortodoxos e os ortodoxos armênios se cotizam para pagar este trabalho que é feito há mais de 08 séculos, e passa como herança de geração em geração.







Já com a porta fechada, quando saia do local, cruzei por um grupo de freiras que se dirigia apressadamente, com suas malas e mochilas, em direção à igreja. Pelo ineditismo da cena interpretei que elas estavam tentando chegar a igreja antes que a porta fosse fechada, o que já havia ocorrido. Quase tentei avisá-las, mas pela velocidade com que cruzaram nem seria possível. Segui para outros lugares, mas depois de um tempo instintivamente retornei à igreja, talvez para mais alguma foto. Não esperava encontrar ninguém no local, o que facilitaria as fotos, mas me enganei. Ainda havia uma pessoa diante da porta da basílica: uma freira havia ficado.



Sozinha com sua fé lá estava ela. Num lugar em que, durante o dia o barulho da multidão de pessoas que ali se aglomera é soberano, reinava agora somente o doloroso silêncio daquela freira, numa sofrida manifestação de frustração. Impossível não imaginar o que aquele momento deveria representar para ela, os sacrifícios superados para ali chegar e a impiedosa ação do tempo que a impediu por minutos, de entrar naquele que certamente é local mais sagrado para os cristãos.



 Tá certo que chorar pra mim não é difícil, mas essa cena foi comovente. Deu aquela engasgada típica de quando tentamos segurar o choro, mas algumas lágrimas superaram o esforço. Esse lugar por si só já é impressionantemente carregado de emoção, pelo seu significado, pela sua história e pelo número de peregrinos que ali acorrem. Mas interessante como uma pessoa sozinha produz mais emoção que uma multidão. Lembro que fiquei um tempo olhando a cena, até vê-la indo embora pelo outro lado, subindo sozinha as escadas que levam para fora dos muros da cidade. Ela carregava uma mochila. Só isso. Fiquei tão envolvido no clima que quando me preparei para fazer a foto da sua saída ela já tinha desaparecido. Restou a escada vazia.




Jerusalém deve ser uma das cidades do mundo com maior número de monumentos sagrados. Mas a primeira lembrança que sempre tenho da Cidade Santa é de uma freira solitária, numa impressionante manifestação de fé. Talvez isso ocorra porque de repente as coisas não precisam mesmo fazer sentido. Como estranho é este fenômeno chamado “fé” e como ele nos emociona. Ela faz com que tudo deva estar sendo o que é..

Realmente “só não existe o que não pode ser imaginado”. Hora de voltar para o hotel.....