quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

VICISSITUDES PESSOAIS




- SOBRE O TEMPO... (e a possibilidade de atualizar o tempo)...


Para quem gosta de refletir sobre o significado do tempo este é um exercício interessante. Há quem diga que o tempo é um sujeito que adora mudar tudo. Mas podemos estabelecer um ajuste de velocidade. Tem coisas que o tempo leva, mas também existem coisas que levam tempo. As fotos abaixo foram produzidas praticamente no mesmo horário, entre 12:00 e 13:00 horas, no mesmo dia, 31/12, em quatro anos seguidos: 2018, 2019, 2020 e 2021. Nos quatro momentos eu estava saindo do Hospital de Clínicas, no último dia de trabalho do ano, e claro nostalgicamente refletindo sobre o que tinha sido feito naquele ano. Não sei porque fiz a primeira foto, mas repeti nos três anos seguintes e o resultado é este. Olhando para as fotos não percebo muitas diferenças no aspecto físico. A barba está mais comprida e mais branca. Menos cabelo na última, mas isso não faz mais diferença. Fico contente em me enganar achando que as rugas não aumentaram. O prédio continua quase igual.  Uma magnifica obra modernista com um significado simbólico que vai muito além de um simples edifício de concreto e aço. Felizmente as obras de ampliação ficaram no outro lado e não comprometeram o objetivo do registro. O céu traz alguma diferença pela incidência de nuvens, mas posso garantir que o calor era forte, com uma sensação térmica muito parecida nestes quatro tempos. O cordão vermelho no pescoço, presente de um monge budista no Nepal, continua ali. E parece que vai resistir ainda por muito tempo. Estranhamente, no entanto, lembro que as circunstâncias emocionais nos quatro momentos eram bem diferentes. Resumindo em uma palavra, o sentimento prevalente daquele momento, posso dizer que eu um eu estava feliz, em outro frustrado, no penúltimo preocupado e no último um pouco esperançoso de um ano melhor. Reflexos de anos bem diferentes. Ou seja, as grandes diferenças entre estes quatro instantes não são visíveis e estão além do que pode ser registrado. Aliás, se eu fosse atribuir os sentimentos descritos às fotos, provavelmente eu erraria a sequência. Como disse Saramago: "fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória". E é esta memória que briga com o tempo, e inexoravelmente será por ele derrotada. Mas por hora fico feliz por ter memória e ainda poder construi-la. Certamente isso não tem muito significado para quem está lendo, mas achei um exercício legal, repleto de simbolismos, e por isso achei interessante publicá-lo. Como uma sugestão para quem como eu gosta de registros históricos. E fica a dúvida: será que conseguirei registrar esse momento novamente em 2022? Como saber...






31/12/2018



31/12/2019



 31/12/2020



31/12/2021