- “A INTERPRETAÇÃO QUE DAMOS AO QUE VEMOS É INVOLUNTÁRIA E INCONTROLAVELMENTE INFLUENCIADA PELO INCONSCIENTE”
Uma das melhores
representações para esta frase de Kant manifesta-se na série 12 JURADOS, disponível
na Netflix. Trata-se de uma série belga, que traz um olhar muito original ao analisar
um crime pela perspectiva dos jurados. Nesta série, o crime é cenário; os
jurados são protagonistas. Com problemas pessoais diversos (traumas, assédios,
medos, preconceitos, inseguranças) pessoas são convocadas para um exercício de
busca pela verdade. Mas como o mundo da verdade não possui um “call center”
para fornecer respostas efetivas, o mundo interior de cada um, dominado pelo
Deus inconsciente, passa a ser o regente da verdade. A narrativa é tão bem
elaborada que em certos episódios nós esquecemos do crime, substituindo-o na
nossa atenção pelos dramas dos personagens que estão ali envolvidos num outro
drama que é julgar o outro. E pior, somos chamados a perceber algo muito pouco
exercitado ultimamente: o que “faz sentido”, não cria um fato. Essa “miopia da
incerteza” é muito bem explorada nos diferentes episódios e nos leva à
inexorável constatação de que tudo que vemos é uma perspectiva manipulada pelo
nosso inconsciente e não a verdade. E ao tentar fazer um exercício de empatia,
colocando-nos no lugar de um dos jurados, vamos perceber que nossa capacidade
de julgamento é muito mais baseada em reconhecimento dos nossos padrões
automáticos de pensar, do que resultado de um processo reflexivo, em que
exercer a autoconsciência de saber que não sei é algo muito difícil. Sem spoiler, mas esta constatação fica bem
evidente quando um dos personagens define a atuação dos jurados como se
estivessem “num emprego”. E como tempero temos ainda a oportunidade de avaliar
como funciona o sistema jurídico belga e até identificar um diálogo em
português. Sem dúvida é uma série que nos faz pensar. Fica a dica.