quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

VICISSITUDES PESSOAIS




- SOBRE O TEMPO... (e a possibilidade de atualizar o tempo)...


Para quem gosta de refletir sobre o significado do tempo este é um exercício interessante. Há quem diga que o tempo é um sujeito que adora mudar tudo. Mas podemos estabelecer um ajuste de velocidade. Tem coisas que o tempo leva, mas também existem coisas que levam tempo. As fotos abaixo foram produzidas praticamente no mesmo horário, entre 12:00 e 13:00 horas, no mesmo dia, 31/12, em quatro anos seguidos: 2018, 2019, 2020 e 2021. Nos quatro momentos eu estava saindo do Hospital de Clínicas, no último dia de trabalho do ano, e claro nostalgicamente refletindo sobre o que tinha sido feito naquele ano. Não sei porque fiz a primeira foto, mas repeti nos três anos seguintes e o resultado é este. Olhando para as fotos não percebo muitas diferenças no aspecto físico. A barba está mais comprida e mais branca. Menos cabelo na última, mas isso não faz mais diferença. Fico contente em me enganar achando que as rugas não aumentaram. O prédio continua quase igual.  Uma magnifica obra modernista com um significado simbólico que vai muito além de um simples edifício de concreto e aço. Felizmente as obras de ampliação ficaram no outro lado e não comprometeram o objetivo do registro. O céu traz alguma diferença pela incidência de nuvens, mas posso garantir que o calor era forte, com uma sensação térmica muito parecida nestes quatro tempos. O cordão vermelho no pescoço, presente de um monge budista no Nepal, continua ali. E parece que vai resistir ainda por muito tempo. Estranhamente, no entanto, lembro que as circunstâncias emocionais nos quatro momentos eram bem diferentes. Resumindo em uma palavra, o sentimento prevalente daquele momento, posso dizer que eu um eu estava feliz, em outro frustrado, no penúltimo preocupado e no último um pouco esperançoso de um ano melhor. Reflexos de anos bem diferentes. Ou seja, as grandes diferenças entre estes quatro instantes não são visíveis e estão além do que pode ser registrado. Aliás, se eu fosse atribuir os sentimentos descritos às fotos, provavelmente eu erraria a sequência. Como disse Saramago: "fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória". E é esta memória que briga com o tempo, e inexoravelmente será por ele derrotada. Mas por hora fico feliz por ter memória e ainda poder construi-la. Certamente isso não tem muito significado para quem está lendo, mas achei um exercício legal, repleto de simbolismos, e por isso achei interessante publicá-lo. Como uma sugestão para quem como eu gosta de registros históricos. E fica a dúvida: será que conseguirei registrar esse momento novamente em 2022? Como saber...






31/12/2018



31/12/2019



 31/12/2020



31/12/2021

domingo, 6 de setembro de 2020

- VICISSITUDES PESSOAIS

 

- SÓ EXISTE A INSPIRAÇÃO PORQUE EXISTEM PESSOAS ESPECIAIS 


Com tristeza descobri que agora, em 21 de agosto, morreu Sir Ken Robinson, após uma curta batalha contra o câncer. Para quem não conhece (e deveria) este simpático senhor (pelo menos em palestras) é autor de vários “best-seller”, liderou projetos nacionais e internacionais em educação criativa e cultural em todo o mundo e foi o palestrante mais assistido na história do TED, com sua palestra de 2006, “As Escolas Matam a Criatividade?”, sendo vista online mais de 60 milhões de vezes e assistida por cerca de 380 milhões de pessoas em 160 países. Foi considerado um dos 'Principais Vozes' da Time / Fortune / CNN e aclamado como um dos “pensadores de elite do mundo em criatividade e inovação”. Simplesmente em 2003, ele recebeu o título de cavaleiro da Rainha Elizabeth II por seus serviços às artes. Fico impressionado negativamente como um indivíduo tão importante nas áreas da educação, que fala sobre criatividade e inovação, reconhecido mundialmente e com mensagens tão importantes para um país, um estado, uma universidade, uma escola, uma sala de aula, um professor não tenha merecido (ou talvez eu não tenha visto), na mídia, qualquer referência quanto a sua morte. Até fiz uma rápida pesquisa nos principais sites de notícia dos dias 21 e 22 de agosto e nestes dias a referência mais frequente foi sobre o frio no sul do país, como se isso fosse uma novidade. Parece que estamos vivendo um “paradoxo da genialidade”. Num tempo em que pessoas geniais e ideias transformadoras estão disponíveis "on line", em qualquer momento, os filtros dos canais de informações parecem ser maiores com os conteúdos de conhecimento inovador e menos seletivo com notícias ideológicas ou de conteúdo medíocre e sem sentido.  Mas mais estranho ainda é que, conversando com alguns colegas professores e gestores em educação, nenhum deles sabia da notícia ou conhecia essa figura. Não consigo entender como um professor, que antes de tudo é um sonhador que deveria viver o que ensina, não tenha uma referência como Ken Robinson no seu horizonte. De certa forma isso explica muita coisa. Talvez seja muito difícil mudarmos as estruturas acadêmicas que mantém o regime ortodoxo e falido do modelo de ensino aplicado nas nossas escolas e universidades. Talvez os gestores deste modelo não tenham lido ou não conheçam as ideias de Ken Robinson. Ou não tenham interesse em promover a mudança, afinal é difícil desatar o que está bem amarrado e causa temor cortar a corda que sustenta as verdades relativas. Mas se o que impulsiona a mudança é a inspiração ou o desespero, vamos usar a inspiração daqueles que já pensaram por nós para promovê-la. Afinal “é quando pequenas mudanças acontecem que realmente vivemos”. Infelizmente com a morte de Ken Robinson perdemos uma fonte de inspiração. E perdemos o tempo de sua morte para divulgar ideias inspiradoras. Deixo aqui pelo menos uma semente inspiradora. Assista este que é o vídeo mais visto no TED e se inspire. Como diz John Keynes: “A maior dificuldade do mundo não é fazer com que as pessoas aceitem novas ideias, mas sim fazê-las esquecer as velhas”.   

  










sexta-feira, 24 de julho de 2020

- VIOLÊNCIA



- “A INTERPRETAÇÃO QUE DAMOS AO QUE VEMOS É INVOLUNTÁRIA E INCONTROLAVELMENTE INFLUENCIADA PELO INCONSCIENTE” 



Uma das melhores representações para esta frase de Kant manifesta-se na série 12 JURADOS, disponível na Netflix. Trata-se de uma série belga, que traz um olhar muito original ao analisar um crime pela perspectiva dos jurados. Nesta série, o crime é cenário; os jurados são protagonistas. Com problemas pessoais diversos (traumas, assédios, medos, preconceitos, inseguranças) pessoas são convocadas para um exercício de busca pela verdade. Mas como o mundo da verdade não possui um “call center” para fornecer respostas efetivas, o mundo interior de cada um, dominado pelo Deus inconsciente, passa a ser o regente da verdade. A narrativa é tão bem elaborada que em certos episódios nós esquecemos do crime, substituindo-o na nossa atenção pelos dramas dos personagens que estão ali envolvidos num outro drama que é julgar o outro. E pior, somos chamados a perceber algo muito pouco exercitado ultimamente: o que “faz sentido”, não cria um fato. Essa “miopia da incerteza” é muito bem explorada nos diferentes episódios e nos leva à inexorável constatação de que tudo que vemos é uma perspectiva manipulada pelo nosso inconsciente e não a verdade. E ao tentar fazer um exercício de empatia, colocando-nos no lugar de um dos jurados, vamos perceber que nossa capacidade de julgamento é muito mais baseada em reconhecimento dos nossos padrões automáticos de pensar, do que resultado de um processo reflexivo, em que exercer a autoconsciência de saber que não sei é algo muito difícil.  Sem spoiler, mas esta constatação fica bem evidente quando um dos personagens define a atuação dos jurados como se estivessem “num emprego”. E como tempero temos ainda a oportunidade de avaliar como funciona o sistema jurídico belga e até identificar um diálogo em português. Sem dúvida é uma série que nos faz pensar. Fica a dica.   






sábado, 11 de julho de 2020

- VICISSITUDES PESSOAIS



- OLHARES EMOCIONAIS..



Já foi dito que "em geral, mudamos por uma das duas razões: inspiração ou desespero". A frase pode ser simplista, mas neste momento de pandemia, em que o medo e a incerteza estão levando muitos ao desespero, surgem manifestações inspiradoras que, pela sua narrativa emocional, nos permitem criar um outro olhar sobre tudo o que estamos passando. Escrevo isso só para ilustrar o que todos já sabemos. Vivemos um momento de mudanças, seja pelo desespero ou pela inspiração. E elas virão de forma tão inexorável quanto o tempo. Tudo que estamos vendo ainda é uma perspectiva, não a verdade. Muito do que ouvimos são opiniões, não fatos. Verdades pela metade são as mais perigosas mentiras.  Se as coisas não estão fazendo sentido, precisamos ter paciência. E ter paciência não é esperar o tempo passar, mas saber como se comportar neste tempo. Se é certo que vamos mudar neste tempo, vamos tentar fazê-lo pela inspiração, não pelo desespero. Duas narrativas inspiradoras estão colocadas abaixo. Ambas nos inspiram à gratidão e à solidariedade, de maneiras diferentes, mas muito competentes na perspectiva emocional. O primeiro vídeo apresenta, na Espanha, o encerramento das atividades em um Hospital de Campanha, que no pico da epidemia de Covid19 estava lotado, e agora não tem mais pacientes. Os profissionais de saúde apagam as luzes, dão tchau com o celular e vão para suas casas. Um show de luz, som e imagens. Um exemplo de como produzir uma narrativa emocional sem utilizar o sofrimento como modelo.  Já a segunda comemora o fim do lockdown em Dubai, mas na perspectiva de uma homenagem a todos que estavam trabalhando na retaguarda, durante os momentos difíceis. Percebe-se que em ambos não há manifestações de desespero. Apenas mensagens inspiradoras. E é na inspiração que devemos buscar o sentido da mudança. Por mais mensagens inspiradoras e menos estimulo ao medo. Estimular a mudança usando o desespero como ferramenta só esvazia a força de hoje.   








domingo, 12 de abril de 2020

- VICISSITUDES PESSOAIS



- ESCOLHA O LADO CERTO PARA LUTAR..










Eiiiiiii tu aí!!! Presta atenção.. essa menina que aponta o dedo pra ti se chama Sabha. Ela vende postais em Petra, a cidade perdida dos Nabateus, na Jordânia. Ela, assim como todas as pessoas “diferentes” que aparecem nas fotos ao lado, faz parte de um grupo chamado “Espécie Humana”, única espécie animal de primata bípede do gênero Homo ainda viva. Pois eles estão todos aqui, junto comigo, para te dizer algo que você já sabe mas talvez ainda não tenha percebido: a espécie humana está sob ataque. Há três meses (sim, meros três meses) estamos sendo atacados por um inimigo poderoso, invisível, rápido, que se propaga com uma velocidade nunca antes vista na história, de forma silenciosa, invadindo nossas cidades, nossas casas, nossos corpos. Não se trata de uma invasão alienígena, vinda de outro planeta. O inimigo criou-se aqui, entre nós, conhece nossos sistemas de defesa, nos analisa, faz a leitura das nossas fraquezas. Não é uma batalha que ocorre somente em Porto Alegre ou na província de São Pedro. Não é uma luta dos “gaúchos de todas as querências”. Ela está ocorrendo em todo o planeta: no Quênia, no Turcomenistão, em Mianmar, na Tailândia, no Uzbequistão, no Equador, na África do Sul. Nos lugares mais distantes, onde vivem pessoas diferentes de nós, com costumes exóticos, religiões estranhas, mas que como nós são pessoas “bonitas”, tem sonhos como os nossos, vivem em lugares lindos como o nosso e principalmente, como nós, são “humanos”. Mesmo com alguns erros de estratégia os “humanos”, pegos de surpresa nesta luta, estavam conseguindo equilibrar o jogo, reforçando suas defesas. Mas nas últimas semanas o inimigo, já poderoso, arranjou um aliado surpreendente e também muito forte:  a “epinformação”. Uma epidemia de informações, tão virulenta quanto a original, composta de informações bizarras e desconectadas, geradas por um exército de pessoas que nada sabem, e no qual você provavelmente também está inserido. Sim, eu sei que você sabe nada ou quase nada sobre a origem do que está acontecendo, simplesmente porque os cientistas e pesquisadores que muito sabem sobre o problema, são humildes em confessar que ainda sabem pouco. E por pouco saberem eles, assim como eu e você, estão com medo. E como diz Mestre Yoda: “o medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio e o ódio leva para o lado negro da força”. E o Lado Negro está poderoso nessa hora, nós não precisamos alimentá-lo, com nossa “sabedoria digital”. Vamos deixar os cientistas, os pesquisadores, os médicos combaterem a pandemia. E vamos entrar na batalha também, mas combatendo a “epinformação”. Não publique, não compartilhe, não comente, não critique, não faça piadas sobre o que você não sabe. Não coloque no seu grupo de WhatsApp aquilo que o “renomado epidemiologista” (que nunca ninguém ouviu falar) postou e que você nem sabe de onde veio. Não divulgue o tratamento espetacular desenvolvido pelo grupo de pesquisadores da Esbórnia. Isso só faz acabar nas farmácias os remédios que são usados pelos que realmente necessitam. Não brigue com seu vizinho ou amigo defendendo teses epidemiológicas que ambos não conhecem. Quando algo estiver efetivamente valendo a comunidade científica será a primeira a te avisar. Não torne o inimigo mais poderoso, propagando o medo e a incerteza. Isso desequilibra a balança. A “espécie humana” não sabe o que vem pela frente. Nós só sabemos que iremos vencer. O que estamos decidindo agora é quantas vidas perderemos até a vitória. Quantos amigos e parentes iremos sepultar. Assim como tem muito “babaca” fazendo coisas erradas, tem muita gente lá fora, cientistas, médicos, enfermeiros, camioneiros, policiais, voluntários, lutando e se ralando por você. Escolha o lado certo para lutar.. Escolha o lado da “espécie humana”..      


sábado, 22 de dezembro de 2018

- VIAGEM



- UMA HISTÓRIA SOBRE FÉ..



Época de natal nos traz lembranças. E um dos locais mais incríveis que já visitei guarda muita relação com essa data: Jerusalém. Nesta sequência procurei captar um dos muitos momentos de mistério e fé que envolvem esta cidade. Era início de noite e queria ver um dos rituais mais simbólicos que é o fechamento da porta da Basílica do Santo Sepulcro, local onde segundo a tradição desenrolaram-se cinco das estações da Via Dolorosa de Jesus Cristo, incluindo a crucificação. Até hoje existe uma família muçulmana que recebeu de Saladino, o chefe militar curdo que esteve à frente dos árabes na reconquista de Jerusalém, no séc. XII, o direito de abrir e fechar cada dia essa porta, única entrada para a basílica. Os franciscanos, em nome da Igreja católica, os greco-ortodoxos e os ortodoxos armênios se cotizam para pagar este trabalho que é feito há mais de 08 séculos, e passa como herança de geração em geração.







Já com a porta fechada, quando saia do local, cruzei por um grupo de freiras que se dirigia apressadamente, com suas malas e mochilas, em direção à igreja. Pelo ineditismo da cena interpretei que elas estavam tentando chegar a igreja antes que a porta fosse fechada, o que já havia ocorrido. Quase tentei avisá-las, mas pela velocidade com que cruzaram nem seria possível. Segui para outros lugares, mas depois de um tempo instintivamente retornei à igreja, talvez para mais alguma foto. Não esperava encontrar ninguém no local, o que facilitaria as fotos, mas me enganei. Ainda havia uma pessoa diante da porta da basílica: uma freira havia ficado.



Sozinha com sua fé lá estava ela. Num lugar em que, durante o dia o barulho da multidão de pessoas que ali se aglomera é soberano, reinava agora somente o doloroso silêncio daquela freira, numa sofrida manifestação de frustração. Impossível não imaginar o que aquele momento deveria representar para ela, os sacrifícios superados para ali chegar e a impiedosa ação do tempo que a impediu por minutos, de entrar naquele que certamente é local mais sagrado para os cristãos.



 Tá certo que chorar pra mim não é difícil, mas essa cena foi comovente. Deu aquela engasgada típica de quando tentamos segurar o choro, mas algumas lágrimas superaram o esforço. Esse lugar por si só já é impressionantemente carregado de emoção, pelo seu significado, pela sua história e pelo número de peregrinos que ali acorrem. Mas interessante como uma pessoa sozinha produz mais emoção que uma multidão. Lembro que fiquei um tempo olhando a cena, até vê-la indo embora pelo outro lado, subindo sozinha as escadas que levam para fora dos muros da cidade. Ela carregava uma mochila. Só isso. Fiquei tão envolvido no clima que quando me preparei para fazer a foto da sua saída ela já tinha desaparecido. Restou a escada vazia.




Jerusalém deve ser uma das cidades do mundo com maior número de monumentos sagrados. Mas a primeira lembrança que sempre tenho da Cidade Santa é de uma freira solitária, numa impressionante manifestação de fé. Talvez isso ocorra porque de repente as coisas não precisam mesmo fazer sentido. Como estranho é este fenômeno chamado “fé” e como ele nos emociona. Ela faz com que tudo deva estar sendo o que é..

Realmente “só não existe o que não pode ser imaginado”. Hora de voltar para o hotel.....









domingo, 24 de dezembro de 2017

- VICISSITUDES PESSOAIS




- NATAL É ALGO MUITO "NATAL"




Natal é um exercício de sensações.. e elas são despertadas pelos detalhes. Certamente esta é a época do ano em que mais somos atacados por estímulos sensoriais. A maioria com uma intencionalidade comercial, mas alguns muito inspiradores.. E se afinal nós mudamos por uma das duas razões: inspiração ou desespero, talvez essa seja a época em que devamos melhorar nossos filtros e buscar mudar pela inspiração. A falta de inspiração nos faz caminhar pelo tédio, não esvazia nossas tristezas e ainda nos reduz a força do hoje. As coisas não precisam mais fazer sentido.. Elas valem pelo que nos inspiram.. Pode ser uma mensagem contaminada pela publicidade.. Ou pode ser uma propaganda que busque uma mensagem.. Elas valem pelas sensações que produzem e pelas inspirações que transmitem.. Gosto do Natal.. Ele traz inspirações e portanto me estimula a pensar, sentir e até mudar.. É muito chato ser chato o tempo todo..









segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

- VIAGEM



- VALE EXPERIMENTAR, MAS NÃO PRECISA REPETIR..



Certamente “nem tudo que pode ser feito, necessariamente deva ser feito”. Existem pessoas que, no entanto, acham que devem fazer de tudo senão a vida não terá sentido. Não costumo pensar assim, normalmente. Mas quando viajo fico com aquele espírito incomodativo de fazer tudo o que puder em determinado lugar, principalmente se a chance de retornar for muito improvável. E nestas horas sempre fica uma dúvida diante de certas oportunidades que surgem: faço ou não... será que vou me arrepender por fazer agora ou me arrepender depois por não ter feito. Pois bem, para os que gostam de viajar deixo aqui cinco dicas, do tipo, “se puderes fazer, faça.. mas não precisa repetir”.


1. ANDAR de TREM na INDIA: se existe um país para vivenciar experiências absurdamente bizarras, este é a India. E de todas as bizarrices proporcionadas neste exótico mundo uma das maiores está relacionada com os trens. As estações são gigantescas, com centenas de pessoas dos tipos mais exóticos se acotovelando  e esperando um trem que tu não sabes de onde vem. De repente vem um sinal e todos correm para uma plataforma, criando-se duas ondas humanas: uma dos que descem e outra dos que tentam embarcar. Sem falar que os trens tem dezenas de carros e nesta loucura tu ainda tens que achar o teu. É muito louco, mas a adrenalina gerada no meio daquela multidão é algo muito diferente. Isso que não comentei ainda da mala que obviamente tu tens que arrastar contra a multidão. Quando tu finalmente consegues entrar e sentar a sensação é de vitória..  Foi incrível, mas eu não quero fazer de novo.






2. BANHO TURCO em ISTAMBUL: Istambul tem o mais antigo “banho turco” do mundo, situado num prédio original construído pelos romanos. Sem preconceitos, mas essa história de banho coletivo nunca foi minha primeira opção de lazer. Mas como quem tá na chuva é pra se queimar, vamos nessa. Realmente a arquitetura do local é bem interessante, mas não sobra muito tempo para observações pois em seguida tu recebes um balde de água quente por cima, depois outro de água gelada e mais uns alongamentos malucos e mais água quente. Sendo que este massacre é realizado por uns caras que parecem ter saído de uma guarda de assassinos turcos do império otomano. Quando tu sais para rua a sensação é aquela: foi incrível, mas não precisa repetir..





3. COMER um PATHAI APIMENTADO no CHINATOWN de BANGKOK: a comida na Tailândia é muito saborosa e o bairro chinês de Bangkok é uma síntese de culturas de todo mundo que ali se reúnem para comer em dezenas de restaurantes que ficam literalmente na calçada. É uma babel de idiomas, sabores, luzes e cheiros. Mas claro que só isso não basta. O teste supremo é encarar a comida apimentada (eles sempre perguntam se tu queres a comida com ou sem pimenta, sendo que a sem pimenta já tem pimenta).  No início não parece tão apavorante pois muitos estão comendo normalmente. E quando o exótico prato chega, ele até parece inofensivo. Mas esta opinião perdura até a terceira garfada. Interessante é que a pimenta parece ter um “delay”. Nas duas primeiras mastigadas a coisa vai indo bem. Só que quando a pimenta “pega”, as lágrimas são imediatas. Estranha contradição é que o Pathai é muito gostoso. Tu queres continuar comendo mas literalmente tua língua e teu cérebro estão sendo dissolvidos neste momento. Não tem como chegar ao final, mesmo com toda a cerveja ajudando (a Chang é uma cerveja tailandesa muito boa, mas neste caso não ajudou). O clima, o lugar e o sabor fazem a experiência culinária ser incrível, mas não tem como repetir.   



  

4- ANDAR de TUK-TUK em HANÓI: um dos cenários mais impressionantes de se ficar observando é o trânsito em Hanói, no Vietnam. Milhares de pequenas motos, carregando várias pessoas e mercadorias ao mesmo tempo, fazem do trânsito um espetáculo de tensão constante pois a cada segundo do um desastre é iminente. É o maior exemplo de caos organizado que já presenciei. Nem vou comentar a experiência que é atravessar uma rua (não existem semáforos). Só existe uma regra: fecha os olhos e vai.. eles irão desviar.. Mas o terror é estar dentro do caos, andando num daqueles carrinhos puxados por uma moto.  São motos vindo de todos os lados, sem que você tenha a menor chance de se defender. A frequência cardíaca vai aos picos e a teu único desejo é “eu quero sair daqui”. No Vietnam praticamente não existe transporte coletivo. Todos tem e andam de moto, para ir ao trabalho, escola, mercado. Estudos apontam que se for necessário evacuar a cidade de Hanói, todos os habitantes poderão sair em motos, tal a quantidade destes veículos e a habilidade que eles tem de carregar três, quatro e até cinco pessoas ao mesmo tempo. Grande experiência, para quem gosta de emoção, mas uma vez só é suficiente. Para cardíacos é totalmente contra-indicado.






5. VIAJAR pelo INTERIOR de CUBA: a terra de Fidel vai ser um bom lugar para se visitar mais de uma vez quando deixar de ser a terra de Fidel. Depois de alguns dias viajando por Cuba você percebe que o culto à revolução só faz sentido para os próprios cubanos. A infra-estrutura do país é muito precária, a comida é ruim, os pontos turísticos (excetuando Havana) são no máximo interessantes e os atrativos turísticos carecem de manutenção. Em Cuba parece que todos vivem no “Mundo de Bob”, aclamando uma história que, além de ser ilustrada por poucas glórias, já perdeu o sentido há muito tempo, criando um arcaico sistema econômico que você facilmente percebe não ter a menor chance de melhorar as condições de vida da população. Vale conhecer Cuba para entender porque o comunismo como proposta ideológica fracassou em todos os locais em que foi implantado. Trata-se de uma interessante experiência sócio-política, que você não conseguiria vivenciar em livro algum. Mas como experiência, não precisa repetir.






sábado, 19 de dezembro de 2015

- VICISSITUDES PESSOAIS




- O DESPERTAR DE "STAR WARS"




O modelo de filmes em sequência sempre traz uma negativa expectativa em relação ao próximo episódio. E na saga “Star Wars” eu e minha geração, que aprendemos a construir a paixão pelos Cavaleiros Jedi, a partir dos episódios IV, V e VI, vimos esta expectativa se confirmar nos episódios I, II e III, quando o modelo da fantasia emocional pela aventura foi substituído pela narrativa tecnológica burocrática. Por isso toda a expectativa em cima da retomada pela aventura prometida para o episódio VII. E neste clima lá fui eu, junto com uma plateia de “tiozinhos e tiazinhas”, alguns acompanhados pelos seus padawans, para uma das primeiras sessões. Num cinema lotado, era nítido que a tensão gerada pela perspectiva da frustração estava presente no ambiente. Mas bastaram os minutos iniciais do filme para que todos percebessem que a magia havia retornado. Provavelmente nem todos irão gostar do filme, mas para os que viram o início da série, no cinema, lá na distante década de 80, e estavam carentes de sair do cinema com aquela sensação inexplicável de que a Força existe, posso garantir: desta vez o sentimento na saída foi como da primeira vez.. A Força está de volta..

Consigo identificar três motivos para achar que hoje os executivos da Walt Disney Pictures devem estar em êxtase financeiro, após investir 4,05 bilhões de dólares para comprar a empresa de George Lucas e garantir os direitos de produção de Star Wars:
1 – A opção pela emoção: parece incrível, mas depois da overdose de efeitos especiais, que colocaram a narrativa a serviço da tecnologia, alguém percebeu a necessidade de retornar as origens, e entender que o sucesso da séria estava na história, na aventura, na emoção que nos conduzia a querer ser um Jedi. É nítido neste episódio que os efeitos tecnológicos estão presentes para ilustrar a história e não para serem os protagonistas. Se é para ver um filme de efeitos especiais, vou comprar pipoca e assistir Transformers.. Star Wars é muito mais que isso..
2 – O carisma das personagens: depois de sermos arrastados a aguentar Ewan McGregor afundando o personagem de Alec Guiness, durante três episódios, com seu Obi-Wan Kenobi estilo pastel de rodoviária, sem gosto e sem tempero, surge agora um novo/velho elenco, que justifica o carisma exigido pela história. A empatia da atriz Dayse Ridley com a personagem Rey é emocionante. Com cinco minutos de filme você percebe que ela está ali para fazer a diferença na história. E para não errar joga tudo no antigo que deu certo. Harrison Ford e seu impagável Han Solo. Não tem como não se emocionar quando ele surge pela primeira vez em cena, casualmente a que aparece no trailer e por isso me permito citá-la aqui. Mesmo não sendo um Jedi, Han Solo é “o cara” e felizmente nunca precisou ser substituído por outro ator. Ele continua pilotando muito bem suas frases irônicas e seu estilo aventureiro imprudente, apesar do tempo.   
3 – Investimento em ícones: em O Despertar da Força retoma-se um dos fatores de sucesso da série, que é a relevância das figuras icônicas de objetos. Quem de nós nunca quis ter um “sabre de luz”, ou pilotar o “Falcon Millenium” ou ter um “R2D2” como amigo? Neste episódio os elementos clássicos das construções iniciais da série voltam não como figuras decorativas, mas praticamente como personagens. O “sabre de luz” é protagonista da melhor cena do filme; o “Falcon Millenium” leva a plateia ao delírio com suas manobras e na falta de um “R2D2” (ok, escapou um spoiller) surge a figura que “rouba” muitas cenas no filme: o dróide BB-2. Este robozinho vai fazer a alegria dos vendedores de brinquedos.  


Mas é isso.. Estava com saudades daquele efeito “onde eu compro outro ingresso pra ver de novo”. Esta deve estar sendo a sensação para os aficionados pela série que já viram o filme. E para os que não viram ainda, podem ir ao cinema tranquilos. Vai valer muito assistir. “O Despertar da Força” traz implícito no título o seu real significado: o despertar da série.. a aventura está de volta..    








quarta-feira, 28 de outubro de 2015

- VICISSITUDES PESSOAIS


- "CONNECTING BENFICA FANS AROUND THE WORLD"




Exemplo de uma perfeita associação da paixão com uma marca.
Mais que uma publicidade é quase uma propaganda ..

Obrigado Fly Emirates pela homenagem... SQN...


domingo, 23 de agosto de 2015

- VICISSITUDES PESSOAIS


- POR QUE AS OPORTUNIDADES PASSAM?




Gosto de pensar sobre fatos analisando os seus valores e isto faz com que eu crie algumas “teses” sobre este universo em que estamos inseridos. Por exemplo, uma das minhas teses favoritas e mais comprovada, é a de que todos os dias devemos considerar sobre o que o mundo lá fora fará hoje para me prejudicar. Isso mesmo. Todos os dias, quando acordo pela manhã sempre me intrigo com este pensamento. Mas sigo pensando: “o que o mundo fará hoje para me ferrar”. Pode parecer um tanto paranoico, mas na medida que o dia vai passando consigo identificar mais consequências do que oportunidades. Tudo bem que alguém já disse que “no mundo não existem prêmios nem castigos, apenas consequências”. Mas também é fato que estas consequências são resultado mais das nossas defesas do que das possíveis iniciativas. Ouvimos muitas opiniões e enxergamos algumas perspectivas. Mas as oportunidades são raras. Isto talvez seja o maior estímulo a permanecermos na chamada “zona de conforto”. O interessante é observar que estas oportunidades não vêm do acaso, mas são patrocinadas por alguém. Em algum momento, em algum lugar alguém nos dará uma oportunidade. Claro que nesta oferta está implícita uma cobrança, afinal nada é de graça. Portanto, o aproveitamento de uma oportunidade passa por três obstáculos. O primeiro é identificá-la (não estamos acostumados com pessoas nos oferecendo oportunidades); o segundo é vencer a desconfiança sobre qual o real interesse de quem a oferece (nos preocupamos muito com o ganho dos outros); e o terceiro é a capacidade de interpretação desta oportunidade como um desafio e não como um problema. E o pior, quando surge alguém com uma oferta, assumimos o risco de vitimá-la pelo nosso medo de frustrações e pela nossa nefasta tendência a acomodação. Todo este discurso na realidade é para manifestar a satisfação que sinto quando visualizo uma “tese” sendo transformada em um roteiro, simples e de fácil entendimento. Admiro quem consegue tornar algo que pensamos em uma narrativa que nos emociona. Afinal, tornar o óbvio algo interessante é uma prova de genialidade. E isto ocorre em um filme: “A Vida Secreta de Walter Mitty”. Sabe aquele filme despretensioso, que você pega para assistir apenas para passar o tempo e de repente ele te dá um soco no estômago? Pois este é um exemplo. Trata-se de um filme sobre uma pessoa mediana, numa vida medíocre e inserida num mundo cruel, que subitamente se depara com uma oportunidade. Aquela muito rara, que nós ficaríamos com uma certa tendência a negá-la e que provavelmente, se pensarmos um pouco, já deve ter passado pelo menos uma na nossa frente. Neste caso, ao contrário da maioria, a opção da personagem é pelo mais difícil. E vale o resultado, pelo menos no filme. Uma história que nada mais é do que uma metáfora sobre a vida de cada um de nós, com uma trilha sonora sensacional (o melhor do filme) e uma fotografia deslumbrante. Fica a dica. O mundo quer nos ferrar diariamente. Mas em algum momento, alguém vai nos oferecer a oportunidade de fazer o diferente. Observe mais os valores do que os fatos. E tome a decisão correta. Para viver uma vida criativa devemos perder o medo de estarmos errados. Não espere pela certeza para tomar uma decisão. Ela não virá, assim como provavelmente uma nova chance também não.


sábado, 14 de março de 2015

- VIOLÊNCIA



- PARA QUE PRECISA DE POLÍCIA?


Quinta-feira, à noite, no trajeto para casa paro em uma sinaleira, e como sempre faço, fico na faixa do meio, pouco antes do semáfaro. À minha direita, um pouco mais a frente para um carro vermelho, e em seguida cruza uma moto, com dois ocupantes de capacete, que se posiciona a minha frente e ao lado do carro vermelho. Uma cena sem importância até perceber que do lado do motorista, no carro vermelho, se projeta uma mão, empunhando uma pistola que aponta diretamente para o piloto da moto. Numa sequência rápida, mas sem precipitação, o motorista do carro desce com pistola fixamente apontada para o piloto, aproxima-se da moto, tira a chave da ignição e colocando a outra mão na cintura do piloto retira deste um revólver. Na mesma cena, mas em movimento paralelo, pela outra porta do carro desce uma jovem também com uma pistola na mão, e rapidamente direciona sua pontaria para o segundo ocupante da moto. Neste momento reconheço a jovem como sendo uma das minhas alunas no último curso de formação de inspetores da Academia de Polícia. Os ocupantes da moto são conduzidos até a calçada enquanto sou orientado por um sinal a ficar parado. Quando todos chegam a calçada sou então liberado para seguir em frente. E assim, até chegar em casa consegui refletir sobre dois sentimentos. O primeiro, de segurança. Pelo menos naquela noite, alguém não será assaltado, assassinado ou terá um revólver apontado para sua cabeça (como já aconteceu comigo) enquanto se dirige para casa após um dia de trabalho. Infelizmente, nos dias seguintes provavelmente a “justiça” já os terá colocado na rua, mas nesta noite ao menos, nós teremos um pouco mais de chance. E o segundo, de orgulho. Orgulho por ter participado na sua formação e orgulho por vê-los fazendo seu trabalho de forma tão eficiente. Acabara de presenciar uma ação rápida, eficaz, executada com mínimos riscos colaterais, por parte daqueles que estão na rua para garantir a nossa segurança. Para os idiotas, interesseiros ideológicos ou alienados que não sabem para que precisamos de polícia fica a resposta no próprio lema da instituição. Nós precisamos deles para “servir e proteger” a todos nós, mesmo os que não os consideram. Parabéns aos jovens anônimos policiais que estavam naquele momento, naquele local. Vocês me protegeram e a todas as potenciais vítimas da violência destes marginais, naquela noite, e que ironicamente não tem a mínima noção do que vocês fizeram por elas. Há certa glória no anonimato.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

- VICISSITUDES PESSOAIS


- COMO SE DIVIDE A VIDA COM ALGUÉM?




Desde “O Último Tango em Paris”, passando por “Império dos Sentidos” e até chegar em “50 Tons de Cinza” filmes que mostram duas pessoas relacionando-se além dos limites da pseudo-normalidade convencional parecem ser muito atrativos. Ou pelo menos conseguem apreender os instintos, os sonhos ou os desejos das pessoas. O apelo visual sempre é muito estimulante. Pois num momento em que “50 Tons de Cinza” mobiliza multidões ao cinema para ver um filme sobre o relacionamento de um casal “atípico” gostaria de chamar a atenção sobre um outro filme, que discute esta temática de uma forma brilhante: “Her”. É temerário dizer que um filme possa esgotar todas as perspectivas de risco que envolvem um relacionamento, mas este, se não o faz, chega muito próximo. O filme discute a dificuldade de se conseguir um relacionamento, os problemas para se manter um relacionamento, o medo da dor potencialmente gerada pela perda de um relacionamento e a culpa originda por esta perda, lançando tudo isso de forma ordenadamente desordenada, numa narrativa monótona e instigante, onde cada cena é criada para nos fazer pensar. Trata-se de verdadeira crônica sobre a ilusão da aproximação, um liquidificador de sentimentos que certamente, em algum momento, envolve e tritura a nossa realidade. Talvez isso já possa ter sido feito em outros filmes. Mas que tal criar este universo numa relação em que um dos parceiros é virtual. Seria possível um sentimento ou algo emocionalmente eficaz com alguém que você não consegue ver, tocar, sentir seu cheiro ou seu gosto? Impossível imaginar. Tudo bem que a voz desta parceria virtual é da Scarlett Johansson, que consegue ser perfeita até quando não aparece, mas só a fantasia auditiva seria suficiente para sustentar um relacionamento que ultrapassa a emoção e gera um sentimento fundamental? Sentimento que inclusive é citado no filme como sendo “uma forma de insanidade socialmente aceita”. Aliás este é um filme de “frases”. A cada momento uma citação nos faz pensar, mas sem muito tempo para fazê-lo pois de forma inesperada uma outra logo surge. “Como se divide a vida com alguém?”... “Nós crescemos e mudamos juntos. Mas essa é a parte difícil. Mudar sem assustar o outro”.. Somam-se ainda a este roteiro genial uma atuação melancolicamente competente de Joaquin Phoenix, uma trilha sonora envolvente e um cenário atemporal. Enfim, você pode até gostar ou ficar atraído por um relacionamento como o de “50 Tons de Cinza”.. Mas se você quer se emocionar com um relacionamento, assista “Her”. Fica a dica..

domingo, 11 de janeiro de 2015

- VIOLÊNCIA


SARCASMO E IRONIA: AS DUAS MELHORES ARMAS CONTRA A ESTUPIDEZ HUMANA






Einstein teria dito que: “existem apenas duas coisas infinitas, o universo e a estupidez humana.. mas para o universo não tenho certeza absoluta”. Lembrei-me desta frase quando me deparei com uma notícia esta semana, publicada no jornal Diário Gaúcho: “Nunca houve tantas mortes violentas na Região Metropolitana (Porto Alegre-RS) como no ano que passou. Foram 1.442 homicídios, um aumento de 26,5% em relação a 2013”. Interessante esta notícia pois nos últimos quatro anos fomos agredidos com estatísticas bizarras e ridículas vindas dos órgãos responsáveis (ou irresponsáveis) do governo informando que os homicídios estavam diminuindo. Aliás, que a violência estava diminuindo. Se existe uma coisa que médico legista faz bem é contar cadáveres.. e melhor ainda contar número de tiros que cada cadáver recebe. Com um aumento constante de corpos vítimas da ação de projéteis de arma de fogo e uma média de três tiros por cadáver que chega baleado ao necrotério do DML fico intrigado ao ler e ouvir relatos oficiais informando que está ocorrendo um aumento no número de “encontro de cadáver” e de “suicídios”.. Realmente Einstein tem razão. Quando as estatísticas jornalísticas retratam de forma mais confiável a nossa realidade do que os dados oficiais algo está fora de controle. E não são os números, pois estes são apenas manipulados pelos interesses políticos. Por outro lado, estamos na metade do mês de janeiro, com temperaturas diárias compatíveis com o calor de Porto Alegre no verão, e desde o final do ano passado os aparelhos de ar condicionado do necrotério do DML estão estragados, sem previsão de conserto. Talvez este conserto venha ocorrer em março, quando o verão acabar. Alguém consegue imaginar o que deve ser trabalhar no cenário de um necrotério, emoldurado por temperaturas de 40º C, moscas em profusão e odores desagradáveis? Melhor não tentar. E certamente esta notícia não sairá no Diário Gaúcho. Necrotério não é notícia. Mas qual a relação que existe entre o descaso com o necrotério do DML e as estatísticas manipuladas da segurança púbica? Tudo e nada. Tudo, porque o que temos aqui são dois exemplos de como funciona um sistema doente, manipulados por quem não quer que a doença apareça, e maquiados para transparecerem que tudo está funcionando. E nada, pois independente da importância dos dois fatos, as estatísticas continuarão sendo manipuladas e os funcionários do DML continuarão trabalhando em condições indignas, desprezíveis e execráveis. Mas é bom parar por aqui, pois quando uma verdade ultrapassa cinco linhas vira um romance. E ninguém agüenta mais romances chatos. A charge fica por conta do momento. 


sábado, 7 de junho de 2014

- VICISSITUDES PESSOAIS



- OS MEUS HERÓIS NÃO MORRERAM DE OVERDOSE..




Não sou muito de manifestar emoções pela perda de grandes personalidades, limitando-me na maioria das vezes a valorizar a obra dos que partiram ao invés de chorar a sua ausência. Creio que a única vez em que efetivamente a emoção da perda se transformou em sentimento foi há 18 anos quando da morte de Renato Russo. Lembro que a notícia da sua morte causou-me a sensação de um vazio doloroso, que se refaz de forma competente em todo dia 11 de outubro. Achei que isso não se repetiria mais, até o dia de hoje. Ao ligar o rádio hoje pela manhã ouvi aquela incompreensível frase: “..morreu o grande ídolo colorado, Fernandão..”. Tenho certeza que a reação que me veio à mente foi a mesma de milhares de pessoas.. “Como assim morreu o Fernandão? Isso não pode ser verdade..”. Ele jamais faria isso com a torcida colorada. Nosso capitão certamente se despediria de nós num jogo festivo, com volta olímpica, ele acenando para as arquibancadas no novo Beira-Rio e nós torcedores entoando o grito que ele consagrou nos nossos corações: “Ohhhh vamo vamo Inter, vamo vamo Inter..” . Mas a negação não resiste à implacável foice do destino.. E isso não foi justo com a nação colorada. O barqueiro não poderia ter levado para o Hades nosso capitão.. não agora.. Tento entender o que me leva a estar escrevendo isso agora e a resposta só pode ser uma.. Paixão.. Se é certo que a paixão nasce do desejo e se extingue com a posse, é também correto dizer que ela deixa representações, ícones, lembranças relevantes.. Durante anos todos nós sentimos uma paixão incontestável pelo Internacional. Mas nós queríamos também que esta paixão se transformasse numa alegoria de vitórias significativas, o que sempre nos escapava pela falta de alguém predestinado a nos conduzir pelo deserto até a terra prometida. E o Fernandão foi exatamente isso, o mensageiro de uma paixão. Ele ajudou a transformar o amor de uma nação pelo seu time, no amor de uma nação pelas glórias do seu time.. Como Nike segurando a chama da vitória, os maiores títulos da história do Internacional terão sempre na sua representação a figura do nosso eterno capitão segurando a taça da vitória.. E isso é a maior injustiça de todas, pois através dos tempos, gerações verão a imagem dele levantando a taça da Libertadores e a taça do Campeonato Mundial e o reverenciarão.. Mas pra nós que estamos aqui, agora, ficou aquela sensação de um vazio absurdo, pois sentimos que podíamos ter agradecido melhor, reverenciado melhor, homenageado melhor o que ele significou para a nossa torcida.. E o máximo que nos é permitido agora é reverenciar sua memória.. definitivamente abre-se um novo dia de eterno vazio. Como na cena final de Sociedade dos Poetas Mortos, diante da injustiça da separação inexorável, tenho vontade de subir na classe e dizer: “Oh capitão, meu capitão”.. Se nossos gritos na arquibancada não foram suficientes para agradecer o que tu significaste na história do Internacional, leva contigo o vazio que estamos sentindo pela tua ausência.. Não há espaço para tanto vazio.. E se os heróis de Cazuza “morreram de overdose”, os meus não. Os meus simplesmente morreram cedo. De novo Renato Russo: “Os bons morrem jovens. Assim parece ser, quando me lembro de você. Que acabou indo embora, cedo demais..."

quarta-feira, 28 de maio de 2014

- VICISSITUDES PESSOAIS



- QUANDO A FALTA DE EMOÇÃO PERTURBA..






Em tempo de copa do mundo no Brasil percebo que o meu sentimento de torcedor, cuja paixão é explicita e irrestrita em relação ao Internacional, não se acompanha daquela emoção especial quando se trata da nossa seleção. Abstraindo todas as mazelas que acompanharam a preparação da copa no Brasil, nesta hora sinceramente eu gostaria de estar mais emocionalmente envolvido com a seleção brasileira. Afinal, ela representa o nosso país numa disputa que todos querem vencer, naquele que é sem dúvida o maior evento esportivo do planeta. Em poucos dias, bilhões de pessoas estarão em frente à televisão com um só objetivo: torcer pelo seu país. E estranhamente isto não parece estar me afetando muito. Hoje recebi uma peça publicitária feita pela Coca-Cola para a seleção da Argentina que virá ao Brasil. E me lembrei de um outro comercial feito pela Quilmes, quando da derrota da Argentina na copa de 1994. Acabei postando os dois. Mesmo sendo produtos comerciais é irrefutável que eles retratam o sentimento dos “hinchas” pela sua seleção e pelo futebol. Não sei se estou sentindo inveja das agências publicitárias argentinas ou da paixão dos “hermanos” por sua seleção. Independente da resposta, é certo que na disputa pela paixão por sua seleção, nós levamos uma goleada. E sinceramente não gosto desta falta de sentimento. O significado dele vai além do futebol.

sábado, 8 de março de 2014

- VIAGEM



- UMA CRÔNICA SOBRE AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO MODERNO
PARTE II - MACHU PICCHU


Da série “As Sete Maravilhas do Mundo”, algumas delas conseguem associar os trabalhos do homem e da natureza em um mesmo cenário. Isso logicamente as torna “diferentes” na forma de serem analisadas. Nesta categoria estão Petra, Machu Picchu e o Corcovado, associações perfeitas entre a construção do homem e a obra da natureza. Mas uma delas consegue associar ainda uma terceira variável, que a torna mais espetacular: o “clima espiritual”. Esse lugar é Machu Picchu. A cidade perdida dos Incas vale pelo lugar, pela paisagem, pela história, pelos mistérios, pelas lendas, mas acima de tudo pelo “estar lá”. É uma cidadela de rochas, construída em um platô à 2.400 metros de altura, ladeada por montanhas e florestas. Podemos especular se estamos em um local religioso, um centro astronômico ou simplesmente na morada do nono imperador inca, Pachacútec. O que importa, no entanto, é que a paisagem é deslumbrante e o clima um espetáculo à parte. Num mesmo dia você pode passar por sol, chuva, névoa, calor e frio. Cada monumento reserva uma história e manifesta um significado arqueológico, cultural, místico e religioso. Aliás, transitar por Machu Picchu exige num primeiro momento a figura de um guia, pois neste lugar uma pedra nunca é somente uma “pedra”. Esta cidade inca, com uma parte agrícola e outra urbana, é dotada de casas, templos, praças, terraços, tudo interligado por caminhos e escadas. Intihuatana, Templo do Sol, Templo do Condor, Templo das Três Janelas são lugares que carregam narrativas que transcendem aquilo que estamos vendo. Andar pelos terraços, observar as estruturas e seus blocos de pedra encaixados com precisão, tirar dezenas de fotos fazem parte do programa. E depois de visitar a cidadela é obrigatório reservar um tempo para fazer o que de melhor se pode fazer neste lugar: NADA.. Vale subir até a Cabana do Guardião e ficar observando, lá do alto, a cidade, a floresta, o Huayna Picchu ao fundo (foto clássica) e sentir a magia do lugar. Os que me conhecem sabem que sou quase um estruturalista, com alguns poucos momentos de “fraqueza” espiritual, mas lhes digo uma coisa: “este lugar é diferente”. Não me perguntem o que tem lá.. Mas recomendo a todos que não percam a oportunidade de estar lá.. Duas dicas: não façam o passeio rápido, que chega no trem às 10 da manhã e volta às 3 da tarde. Em Machu Picchu vale chegar cedo pela manhã para ver o dia nascendo e se possível ficar até a tarde para ver o sol se pondo. Para isso recomendo ficar uma noite em Águas Calientes, a cidade que fica junto ao Rio Urubamba. Assim, na primeira visita você pode ficar até o final da tarde, observando o sol baixando, e no dia seguinte voltar novamente para curtir o amanhecer, antes que a horda de turistas bárbaros invada a cidade. Nesta segunda subida (todas são feitas de ônibus), vai a segunda dica. Você pode associar um passeio sensacional que é a subida ao Huayna Picchu ou uma trilha mais leve até a ponte inca. Atenção que a subida ao Huayna Picchu exige reserva prévia e bastante coragem. Mas a vista é extasiante. Outras cidades misteriosas rivalizam com Machu Picchu em termos de valor histórico, mas creio ser difícil alguma delas apresentar o “clima” que esta cidadela inca absorve. No México, por exemplo, Monte Albán apresenta características muito semelhantes a Machu Picchu. Trata-se de uma cidadela, construída pelos zapotecas, em um platô, no alto de uma montanha, com ruínas muito bem conservadas. Você cruza pela cidadela e tem uma aula de história. Mas a memória que fica deste lugar é apenas visual. Trata-se de uma obra magnífica, mas destituída de emoção. Ou seja, os Incas assinaram com louvor uma das sete maravilhas do mundo moderno.. Se “místico” é aquilo que a inteligência humana tem dificuldade em explicar, então Machu Picchu é um lugar místico.. 






         

sábado, 15 de fevereiro de 2014

- VIAGEM



- UMA CRÔNICA SOBRE AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO MODERNO
PARTE I - TAJ MAHAL


Muitas pessoas gostam de definir objetivos em suas vidas. Os estruturalistas chamariam isso de “metas”, enquanto os emergentes definiriam isso como “sonhos”. Pouco interessa se são sonhos ou metas. Se os radicais querem escalar o Himalaia, os mais sensíveis desejam escrever um livro. Os objetivos tem o mesmo significado. A idéia está em chegar lá... Pois em julho de 2007 acompanhei a eleição das novas “Sete Maravilhas do Mundo”, escolhidas em um concurso popular internacional promovido pela New Open World Foundation. Com mais de cem milhões de votos, enviados de todas as partes do mundo através da internet, foram escolhidos para este seleto grupo os seguintes monumentos: Coliseu (Itália), Taj Mahal (Índia), Cristo Redentor (Brasil), Chichén Itzá (México), Machu Picchu (Peru), Petra (Jordânia) e a Muralha da China. Lendo esta lista resolvi dar um objetivo às minhas viagens. Assim, juntando sonho e objetivo, resolvi que iria conhecer as Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Este breve histórico é para poder informar que “CHEGUEI LÁ...”. Em janeiro de 2014 consegui fechar a lista e realizar meu sonho/objetivo. Isto me autoriza a escrever minhas impressões sobre estes lugares e talvez despertar um sonho em alguns, afinal viajar nunca é um ato neutro, ao contrário, é sempre uma experiência que nos modifica. Conferindo a lista percebemos que não há um critério comum de destaque presente em todas. Valores artísticos, históricos, naturais, arquitetônicos, religiosos se misturam e destacam cada uma de forma diferente. Assim, não existe a mais espetacular ou a menos importante. Todas se justificam nesta lista por algum critério. No critério artístico o grande destaque da lista, sem dúvida é o Taj Mahal, uma jóia da arte. E começo escrevendo exatamente sobre esta maravilha. O Taj Mahal, nome que significa a “Coroa de Mahal”, foi construído pelo imperador Shah Jahan em homenagem à sua terceira esposa, Mumtaz Mahal, que morreu quando do nascimento de seu décimo quarto filho. Durante vinte e dois anos, mais de 20 mil trabalhadores foram empregados na construção. Trata-se de uma obra impressionante pela riqueza dos desenhos de suas paredes, feitos com ametistas, safiras, jade, turquesa, lápis-lazuli incrustadas em pesados blocos de mármore branco. Quatro minaretes de 41 m de altura cercam o mausoléu que apresenta uma abóbada de 24 m de altura, decorada com fios de ouro. Uma lenda diz que para que os construtores não pudessem repetir a beleza e grandiosidade da obra, o Imperador mandou que suas mãos fossem cortadas e seus olhos cegados. O mais incrível, no entanto, é que não estamos diante de um monumento construído por motivação religiosa, política ou militar. O Taj Mahal é um monumento em homenagem ao amor e nele a paixão está presente em todos os detalhes. E esta paixão ainda teve um fim mais trágico, pois o imperador foi deposto por seu filho logo após a conclusão do mausoléu e passou mais 12 anos preso, até morrer, no Forte de Agra, no outro lado do rio Yamuna, numa sala de cuja janela podia avistar o túmulo construído para sua amada. Durante uma visita ao Forte de Agra é possível chegar a esta sala e ter a mesma visão de Shah Jahan. Não existe nada igual no mundo. Mesmo obras de fantástico valor artístico como a Catedral de São Pedro, em Roma, ou a Alhambra, em Granada, não conseguem transmitir a emoção deste lugar. Mas essa é apenas uma história. As outras seis ficam para os próximos capítulos....





sábado, 11 de janeiro de 2014

- VICISSITUDES PESSOAIS



- SOBRE MEMÓRIAS E O TEMPO DO INDIVÍDUO..





                             

Um estímulo interessante às nossas emoções ocorre quando nos deparamos com cenas que perturbam e despertam os nossos sentimentos privados, que estão escondidos no teatro da nossa memória e cujo “eu proprietário” guarda tão bem, que muitas vezes perde a chave da sua liberação. Nestes momentos, felizmente surgem objetos competentes que resgatam estas memórias emocionais, driblando o guardião do esquecimento. Fico contente quando isso ocorre pois se o horizonte do indivíduo é a morte, é pela memória das coisas que nos despertam a emoção que nos fazemos presentes. Não se trata de nostalgia ou vontade de voltar ao passado. Não interessa se são alterações hormonais ou ondas eletrofisiológicas, invisíveis e não mensuráveis, que causam isso. Vale porque é bom, porque me lembra que coisas especiais ocorreram e que eu tinha cometido a doidice de esquecê-las. Nós temos o tempo geográfico, o tempo social, mas existe também o tempo do individuo, que é cíclico, e composto de eventos que não deveriam ficar tão escondidos. Este discurso todo se deve a dois vídeos que coincidentemente recebi num curto intervalo de tempo e que me trouxeram de volta um ciclo muito bom da história do meu tempo. Vale registrar, pois o guardião da minha memória é tão idiota que pode cometer a negligência de colocá-los no esquecimento novamente.


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

- VIOLÊNCIA



- ALGO ESTÁ ERRADO...




A covardia coloca a questão: É seguro?
O comodismo coloca a questão: É popular?
A etiqueta coloca a questão: É elegante?
Mas a consciência coloca a questão: É correto?

E chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não e elegante, não é popular, mas temos de fazê-lo porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta.

Martin Luther King


Recentemente numa reunião daquelas de "alto escalão" fui questionado por uma manifestação minha sobre uma tomada de posição institucional. A dialética entre fazer o que é melhor para o interesse da instituição e fazer o que é certo está cada vez mais presente nas discussões de gerências. E me espanta o fato de que tanto no âmbito profissional quanto nas escolhas pessoais o "princípio do interesse" ganha espaço e justificativas. Me sinto cada vez mais um corpo estranho nestas reuniões pois ainda sou um defensor intransigente da conduta do "faça a coisa certa" .. Esta me parece uma conduta tão simples que fico constrangido em ter que a justificar perante pessoas que antes de mim deveriam apresentá-lá. Me sinto cada vez mais um corpo estranho quando me levanto com minha bandeja, na praça de alimentação do shopping, e vou colocá-lá no lixo. Esta me parece uma conduta tão simples que fico constrangido ao perceber que só eu estou fazendo isso. Um professor de ética me disse certa vez que "ética é aproximar aquilo que nós sabemos que devemos fazer daquilo que nós realmente fazemos". Se este conceito estiver correto acho que devemos começar a nos preocupar. Percebo uma certa banalização em não fazer o que é certo... e o que é pior, solidariedade parece estar se tornando virtude...