- UM RITUAL BIZARRO E DE MUITA FÉ - NEPAL
Viagens a países exóticos
proporcionam sempre experiências também exóticas ou bizarras, mas que nos
permitem entender a cultura e a história dos povos. Uma experiência que pode
ser classificada como impressionante é a visita ao Templo Hindu de
Pashupatinath, em Kathmandu, no Nepal. Este templo, um Patrimônio da Humanidade
pela UNESCO, permite uma visão privilegiada dos rituais de cremação, uma
cerimônia muito importante dentro da religião hindu. De acordo com a tradição do hinduismo, no Nepal, o cadáver é levado em uma padiola improvisada, normalmente
pelos familiares, enrolado em um pano branco ou alaranjado, enquanto estes
recitam orações. Ao chegar ao local da cremação junto ao Rio Bagmati, um
afluente sagrado do Rio Ganges, o corpo é mergulhado em suas águas, num ritual
de purificação. Na seqüência é colocado sobre uma pilha de troncos de madeira,
que estão em plataformas junto ao rio. A pira é acesa normalmente pelo filho
mais velho, no caso dos homens, ou pelo filho mais novo, no caso de mulheres. O
fogo queima durante aproximadamente três horas, supervisionado por um
responsável pelas cremações, e acompanhado pelos familiares, normalmente
homens. As mulheres só comparecem se não chorarem ou gritarem, pois isto não é
considerado adequado para o momento. Neste período o filho mais velho tem seu
cabelo raspado, num dos inúmeros rituais que acompanham esta cerimônia. Ao
final, as cinzas, pertences e restos de madeira são jogados no rio e a
plataforma é lavada, com água do próprio rio, normalmente pelos filhos. Este ritual
é extremamente importante para os hindus. As cinzas jogadas nas águas do rio
sagrado libertam a alma da matéria, permitindo que a fumaça que sobe,
estabeleça uma comunicação com os Deuses. A cremação é o caminho para a
libertação espiritual, liberando o homem do Samsara, um ciclo vicioso de
milhares de renascimentos e reencarnações, e permitindo alcançar o Moksha, um
estado de perfeição, uma analogia ao Nirvana. Para nós que não participamos
dessa cultura, o ritual pode parecer algo entre o macabro e o bizarro. Mas
diante dele é possível sentir o peso da religiosidade e a fé que reveste cada
gesto desta diversidade. Você fica tempo observando o cenário e questionando a espiritualidade e o valor do corpo e da matéria. Pashupatinath corresponde, no Nepal, ao que ocorre em
Varanasi, a cidade sagrada dos seguidores do hinduismo. Mas isso já é outra
história...
Sem comentários:
Enviar um comentário