segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

- VIAGEM



- VALE EXPERIMENTAR, MAS NÃO PRECISA REPETIR..



Certamente “nem tudo que pode ser feito, necessariamente deva ser feito”. Existem pessoas que, no entanto, acham que devem fazer de tudo senão a vida não terá sentido. Não costumo pensar assim, normalmente. Mas quando viajo fico com aquele espírito incomodativo de fazer tudo o que puder em determinado lugar, principalmente se a chance de retornar for muito improvável. E nestas horas sempre fica uma dúvida diante de certas oportunidades que surgem: faço ou não... será que vou me arrepender por fazer agora ou me arrepender depois por não ter feito. Pois bem, para os que gostam de viajar deixo aqui cinco dicas, do tipo, “se puderes fazer, faça.. mas não precisa repetir”.


1. ANDAR de TREM na INDIA: se existe um país para vivenciar experiências absurdamente bizarras, este é a India. E de todas as bizarrices proporcionadas neste exótico mundo uma das maiores está relacionada com os trens. As estações são gigantescas, com centenas de pessoas dos tipos mais exóticos se acotovelando  e esperando um trem que tu não sabes de onde vem. De repente vem um sinal e todos correm para uma plataforma, criando-se duas ondas humanas: uma dos que descem e outra dos que tentam embarcar. Sem falar que os trens tem dezenas de carros e nesta loucura tu ainda tens que achar o teu. É muito louco, mas a adrenalina gerada no meio daquela multidão é algo muito diferente. Isso que não comentei ainda da mala que obviamente tu tens que arrastar contra a multidão. Quando tu finalmente consegues entrar e sentar a sensação é de vitória..  Foi incrível, mas eu não quero fazer de novo.






2. BANHO TURCO em ISTAMBUL: Istambul tem o mais antigo “banho turco” do mundo, situado num prédio original construído pelos romanos. Sem preconceitos, mas essa história de banho coletivo nunca foi minha primeira opção de lazer. Mas como quem tá na chuva é pra se queimar, vamos nessa. Realmente a arquitetura do local é bem interessante, mas não sobra muito tempo para observações pois em seguida tu recebes um balde de água quente por cima, depois outro de água gelada e mais uns alongamentos malucos e mais água quente. Sendo que este massacre é realizado por uns caras que parecem ter saído de uma guarda de assassinos turcos do império otomano. Quando tu sais para rua a sensação é aquela: foi incrível, mas não precisa repetir..





3. COMER um PATHAI APIMENTADO no CHINATOWN de BANGKOK: a comida na Tailândia é muito saborosa e o bairro chinês de Bangkok é uma síntese de culturas de todo mundo que ali se reúnem para comer em dezenas de restaurantes que ficam literalmente na calçada. É uma babel de idiomas, sabores, luzes e cheiros. Mas claro que só isso não basta. O teste supremo é encarar a comida apimentada (eles sempre perguntam se tu queres a comida com ou sem pimenta, sendo que a sem pimenta já tem pimenta).  No início não parece tão apavorante pois muitos estão comendo normalmente. E quando o exótico prato chega, ele até parece inofensivo. Mas esta opinião perdura até a terceira garfada. Interessante é que a pimenta parece ter um “delay”. Nas duas primeiras mastigadas a coisa vai indo bem. Só que quando a pimenta “pega”, as lágrimas são imediatas. Estranha contradição é que o Pathai é muito gostoso. Tu queres continuar comendo mas literalmente tua língua e teu cérebro estão sendo dissolvidos neste momento. Não tem como chegar ao final, mesmo com toda a cerveja ajudando (a Chang é uma cerveja tailandesa muito boa, mas neste caso não ajudou). O clima, o lugar e o sabor fazem a experiência culinária ser incrível, mas não tem como repetir.   



  

4- ANDAR de TUK-TUK em HANÓI: um dos cenários mais impressionantes de se ficar observando é o trânsito em Hanói, no Vietnam. Milhares de pequenas motos, carregando várias pessoas e mercadorias ao mesmo tempo, fazem do trânsito um espetáculo de tensão constante pois a cada segundo do um desastre é iminente. É o maior exemplo de caos organizado que já presenciei. Nem vou comentar a experiência que é atravessar uma rua (não existem semáforos). Só existe uma regra: fecha os olhos e vai.. eles irão desviar.. Mas o terror é estar dentro do caos, andando num daqueles carrinhos puxados por uma moto.  São motos vindo de todos os lados, sem que você tenha a menor chance de se defender. A frequência cardíaca vai aos picos e a teu único desejo é “eu quero sair daqui”. No Vietnam praticamente não existe transporte coletivo. Todos tem e andam de moto, para ir ao trabalho, escola, mercado. Estudos apontam que se for necessário evacuar a cidade de Hanói, todos os habitantes poderão sair em motos, tal a quantidade destes veículos e a habilidade que eles tem de carregar três, quatro e até cinco pessoas ao mesmo tempo. Grande experiência, para quem gosta de emoção, mas uma vez só é suficiente. Para cardíacos é totalmente contra-indicado.






5. VIAJAR pelo INTERIOR de CUBA: a terra de Fidel vai ser um bom lugar para se visitar mais de uma vez quando deixar de ser a terra de Fidel. Depois de alguns dias viajando por Cuba você percebe que o culto à revolução só faz sentido para os próprios cubanos. A infra-estrutura do país é muito precária, a comida é ruim, os pontos turísticos (excetuando Havana) são no máximo interessantes e os atrativos turísticos carecem de manutenção. Em Cuba parece que todos vivem no “Mundo de Bob”, aclamando uma história que, além de ser ilustrada por poucas glórias, já perdeu o sentido há muito tempo, criando um arcaico sistema econômico que você facilmente percebe não ter a menor chance de melhorar as condições de vida da população. Vale conhecer Cuba para entender porque o comunismo como proposta ideológica fracassou em todos os locais em que foi implantado. Trata-se de uma interessante experiência sócio-política, que você não conseguiria vivenciar em livro algum. Mas como experiência, não precisa repetir.






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