sexta-feira, 24 de julho de 2020

- VIOLÊNCIA



- “A INTERPRETAÇÃO QUE DAMOS AO QUE VEMOS É INVOLUNTÁRIA E INCONTROLAVELMENTE INFLUENCIADA PELO INCONSCIENTE” 



Uma das melhores representações para esta frase de Kant manifesta-se na série 12 JURADOS, disponível na Netflix. Trata-se de uma série belga, que traz um olhar muito original ao analisar um crime pela perspectiva dos jurados. Nesta série, o crime é cenário; os jurados são protagonistas. Com problemas pessoais diversos (traumas, assédios, medos, preconceitos, inseguranças) pessoas são convocadas para um exercício de busca pela verdade. Mas como o mundo da verdade não possui um “call center” para fornecer respostas efetivas, o mundo interior de cada um, dominado pelo Deus inconsciente, passa a ser o regente da verdade. A narrativa é tão bem elaborada que em certos episódios nós esquecemos do crime, substituindo-o na nossa atenção pelos dramas dos personagens que estão ali envolvidos num outro drama que é julgar o outro. E pior, somos chamados a perceber algo muito pouco exercitado ultimamente: o que “faz sentido”, não cria um fato. Essa “miopia da incerteza” é muito bem explorada nos diferentes episódios e nos leva à inexorável constatação de que tudo que vemos é uma perspectiva manipulada pelo nosso inconsciente e não a verdade. E ao tentar fazer um exercício de empatia, colocando-nos no lugar de um dos jurados, vamos perceber que nossa capacidade de julgamento é muito mais baseada em reconhecimento dos nossos padrões automáticos de pensar, do que resultado de um processo reflexivo, em que exercer a autoconsciência de saber que não sei é algo muito difícil.  Sem spoiler, mas esta constatação fica bem evidente quando um dos personagens define a atuação dos jurados como se estivessem “num emprego”. E como tempero temos ainda a oportunidade de avaliar como funciona o sistema jurídico belga e até identificar um diálogo em português. Sem dúvida é uma série que nos faz pensar. Fica a dica.   






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