domingo, 18 de março de 2012

- VICISSITUDES PESSOAIS

O "PRINCIPIO DA INCERTEZA"





Esta foto foi feita durante uma visita a uma mesquita no interior da Turquia e retrata, de forma simbólica, o relacionamento afetivo de um casal de idosos. Enquanto buscava um melhor enquadramento, fiquei observando por algum tempo a forma carinhosa dos gestos e o cuidado de cada um para com as ações do parceiro. Estas relações afetivas duradouras sempre me despertam um questionamento: "o que deu errado nesta relacionamento para ele durar tanto tempo?". Pode parecer deprimente, mas tenho a impressão que relacionamentos duradouros tornaram-se, nos dias de hoje, uma anormalidade estatística. Werner Heisenberg, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1932 e um dos criadores da mecânica quântica, é autor do famoso “princípio da incerteza”.  O “princípio da incerteza” estabelece que, mesmo em condições ideais, o comportamento futuro de qualquer sistema não pode ser completamente previsível.  Se este princípio é considerado um dos mais profundos e de maior alcance em toda a ciência, sua aplicabilidade aos relacionamentos interpessoais considero como sendo bastante adequada.  Principalmente quando percebemos que o ponto inicial da maioria dos relacionamentos está muito centrado no núcleo do desejo. O relacionamento que decorre de um "desejo" é completamente imprevisível e tem grande chance de acabar com o advento da convivência e o decorrer do tempo. Afinal, a posse permite a descoberta dos defeitos e isso destrói o prazer. Os relacionamentos esgotam-se com a materialização dos defeitos e a consequente falta de condições de assumir um significado para eles. Esta falta de significados (ou conteúdo) cria um vazio que irá, inexoravelmente, ser preenchido por um outro objeto emocionalmente competente. E não há previsão de quando isso irá acontecer ou possibilidade de defesa para evitá-lo. Sinônimo de fracasso é a tentativa de racionalizar este emocional, que sempre precede o sentimento. Quando um novo objeto emocional ocupa seu espaço, mesmo que não se torne uma necessidade, estará gerando o desiquilíbrio no relacionamento e criando um campo propício para um potencial e devastador conflito. E uma vez estando o conflito instalado, resta agora a sua administração: negar, acomodar ou negociar. Qualquer das alternativas levará ao mesmo resultado, ou seja, a perempção do relacionamento.. simplesmente a sua morte. Tenho a convicção de que a manutenção dos significados é a esperança de sobrevivência de um relacionamento. E não existe significado sustentável se o núcleo da relação for o desejo e a busca do prazer. É o “princípio da incerteza” fazendo-se presente nas relações afetivas. Saber isso ajuda a melhorar os relacionamentos?? Acho que não. Mas ajuda a explicar, por exemplo, como a acomodação ajuda a manter os relacionamentos, já que a tentativa de um novo traz sempre consigo uma nova incerteza, com todos as suas potenciais frustrações. Como todo princípio universal não existe forma de evitá-lo. Resta conviver com ele e torcer pelo resultado. E o casal da foto parece ter encontrado o melhor resultado.   


3 comentários:

  1. Talvez não não fosse um bom momento... O texto parece um tanto pessimista para alguém com teu estado de espírito.

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  2. Após a leitura da belíssima reflexão sobre relacionamentos, principalmente aqueles originados pelo desejo, me pergunto se a aplicação do mesmo princípio, resultaria na morte de um relacionamento baseado na confiança. Ao que me parece, a foto está impregnada de confiança e diálogo. Sem contar que representa muito bem a convivência. E conviver é trato constante. Consequentemente, exercício de confiança, neste passo o desejo apenas acompanha, ao longo do tempo, este complexo processo das relações interpessoais.
    Além disso, aquelas lacunas abertas pelos imensos defeitos, nos relacionamentos mais duradouros, em geral são "costuradas" ou aceitas, justamente pela presença da confiança. Interessante como fica claro que relacionamentos baseados no desejo, dispensam tudo isso. Basta o primeiro sinal de "defeito" e vislumbra-se a oportunidade de trocá-lo por outro igualmente volátil.
    Enfim, a foto é linda, a narrativa também. Talvez o único defeito fique a cargo da imensa lacuna que existe entre todo o ideal que se consegue verbalizar e aquilo que efetivamente se consegue vivenciar.

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    1. Não creio que esta lacuna seja efetivamente um "defeito", pois ela está presente em todos os relacionamentos. E neste caso teríamos que creditar a todos um defeito crônico. Não creio que eles sejam defeituosos.. apenas são frágeis. Frágeis talvez pela falta desta confiança. Alguém já disse que "confiar é uma prova de coragem e ser fiel uma prova de força"... Talvez o casal da foto esteja incluindo neste conceito. Aliás eu fiz a foto porque acreditei nisso.. acreditei nessa incerteza que às vezes pode dar certo.. ou se arrastar entre a conveniência e a acomodação.. Mas gostei dos argumentos "anônimo"..

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