sábado, 7 de junho de 2014

- VICISSITUDES PESSOAIS



- OS MEUS HERÓIS NÃO MORRERAM DE OVERDOSE..




Não sou muito de manifestar emoções pela perda de grandes personalidades, limitando-me na maioria das vezes a valorizar a obra dos que partiram ao invés de chorar a sua ausência. Creio que a única vez em que efetivamente a emoção da perda se transformou em sentimento foi há 18 anos quando da morte de Renato Russo. Lembro que a notícia da sua morte causou-me a sensação de um vazio doloroso, que se refaz de forma competente em todo dia 11 de outubro. Achei que isso não se repetiria mais, até o dia de hoje. Ao ligar o rádio hoje pela manhã ouvi aquela incompreensível frase: “..morreu o grande ídolo colorado, Fernandão..”. Tenho certeza que a reação que me veio à mente foi a mesma de milhares de pessoas.. “Como assim morreu o Fernandão? Isso não pode ser verdade..”. Ele jamais faria isso com a torcida colorada. Nosso capitão certamente se despediria de nós num jogo festivo, com volta olímpica, ele acenando para as arquibancadas no novo Beira-Rio e nós torcedores entoando o grito que ele consagrou nos nossos corações: “Ohhhh vamo vamo Inter, vamo vamo Inter..” . Mas a negação não resiste à implacável foice do destino.. E isso não foi justo com a nação colorada. O barqueiro não poderia ter levado para o Hades nosso capitão.. não agora.. Tento entender o que me leva a estar escrevendo isso agora e a resposta só pode ser uma.. Paixão.. Se é certo que a paixão nasce do desejo e se extingue com a posse, é também correto dizer que ela deixa representações, ícones, lembranças relevantes.. Durante anos todos nós sentimos uma paixão incontestável pelo Internacional. Mas nós queríamos também que esta paixão se transformasse numa alegoria de vitórias significativas, o que sempre nos escapava pela falta de alguém predestinado a nos conduzir pelo deserto até a terra prometida. E o Fernandão foi exatamente isso, o mensageiro de uma paixão. Ele ajudou a transformar o amor de uma nação pelo seu time, no amor de uma nação pelas glórias do seu time.. Como Nike segurando a chama da vitória, os maiores títulos da história do Internacional terão sempre na sua representação a figura do nosso eterno capitão segurando a taça da vitória.. E isso é a maior injustiça de todas, pois através dos tempos, gerações verão a imagem dele levantando a taça da Libertadores e a taça do Campeonato Mundial e o reverenciarão.. Mas pra nós que estamos aqui, agora, ficou aquela sensação de um vazio absurdo, pois sentimos que podíamos ter agradecido melhor, reverenciado melhor, homenageado melhor o que ele significou para a nossa torcida.. E o máximo que nos é permitido agora é reverenciar sua memória.. definitivamente abre-se um novo dia de eterno vazio. Como na cena final de Sociedade dos Poetas Mortos, diante da injustiça da separação inexorável, tenho vontade de subir na classe e dizer: “Oh capitão, meu capitão”.. Se nossos gritos na arquibancada não foram suficientes para agradecer o que tu significaste na história do Internacional, leva contigo o vazio que estamos sentindo pela tua ausência.. Não há espaço para tanto vazio.. E se os heróis de Cazuza “morreram de overdose”, os meus não. Os meus simplesmente morreram cedo. De novo Renato Russo: “Os bons morrem jovens. Assim parece ser, quando me lembro de você. Que acabou indo embora, cedo demais..."

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